segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

OFERTAS DESTA QUADRA




SALVADOR DALI - Os famosos relógios moles, nascidos de um sonho como um camembert que escorre


Há uma estatística impossível: a que pode enumerar, um por um, os objectos absolutamente prescindíveis que podemos adquirir, ou que adquirimos, por estas festas.

O calendário obriga, muito mais que o republicanismo, a sentirmos uma desagradável sensação de fracasso se nesta época não nos permitíssemos algum esbanjamento.

Chovem-nos as ofertas comerciais, em árdua concorrência com a dos partidos políticos e não há mais remédio do que molharmo-nos.

Entre outras coisas, os jornais, e as revistas que nada têm para ler e só servem de abanico e as televisões, todos insistem em mostrar-nos belos objectos que nem dados, nos farão falta.

Entre eles abundam os relógios caríssimos, cujo "designe" só experimentou uma ligeiríssima variante com a da época anterior, salvo a cor do mostrador.

Por que será que se fabricam com uma superfície cada vez mais escura?

Será que se pretende que só saibamos a hora de um modo aproximado?

Nos tempos dos nossos avós e até pais, os relógios eram mais lógicos.

Todo aquele que o olhava sabia, fielmente, com o que contava.

Agora têm muitas circunferências pequenas, dentro da que abarca tudo e se aglomeram os números de tal maneira, que se alguém teve a imprudência de nos oferecer um, nós os mais velhos, temos que perguntar "qual é a hora" ao velhote que está ao nosso lado.

Há muitas pessoas que o único que desejam é que lhe ofereçam o ouvido, mas não é inferior o número das que se vêm obrigadas a agradecer ofertas indesejáveis.

O recorde, ostentam-no os perfumes.

O que valeriam os perfumes se não fossem embalados tão luxuosamente?

Normalmente vale mais a coleira que o cão.

Há artistas que asseguram que o belo é inútil.

Porventura será mais certo o contrário.

1 comentário:

AJO disse...

Relógios desses havia muitos lá em Barcelona...