domingo, 13 de janeiro de 2008

AINDA AS BOAS FESTAS COM BONS DESEJOS



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Se excluirmos um pequeno número de compatriotas que fugiram deste meio, para evitar estes "empanturrosos" dias, os outros felicitaram-se mutuamente.

Cruzaram-se não sei quantos milhões de SMS.

As mensagens destas abençoadas noites são "bonississimas" para as operadoras de telecomunicações, que são os únicos que merecem ser felicitados pelas seus lucros.

Salvo erro tipográfico ou de paralaxe, parece-me que embolsaram cerca de 4 milhões de euros, só em mensagens curtas.

A síntese, que desertou desde há muito dos discursos dos políticos, refugiou-se nas doces senhas "festivalescas".

Não sei qual o preço médio de cada texto, talvez cerca de 10 cêntimos ou mais, não sei, mas é agiotagem em breves palavras, mas há grandes discursos pelos quais ninguém pagaria um euro.

Será que nós, portugueses, nos queremos tanto, para desejarmos tanta felicidade mutua?

Metade do país não tem nada a ver com a outra metade.

Há manifestações para todos os gostos, incluindo as de mau ou péssimo gosto.

Continuamos a ser tão tolerantes que aceitamos qualquer coisa, menos que nos levem a contrária.

Bem pode baldoar, Fernando Savater, (*), explicando que o laicismo não é uma atitude anti-religiosa, mas sim evangélica.

Consiste em dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César e em preservar as leis civis da férula religiosa.

Parece que não há maneira, ou melhor, que ainda a não encontrámos mas o que nos deixa ser confortador é que continuamos a felicitarmo-nos.

A que é que chamamos felicidade?

Antonio Machado (**), deu uma eficaz receita para consegui-la: "uma boa saúde e a cabeça vazia".

A Baudelair, alguém lhe perguntou se era feliz, ao que ele respondeu, que não havia caído tão baixo.

Prefiro a resposta de um amigo meu, ao qual não podíamos caluniar acusando-o de ser algo rufião, quando lhe perguntávamos se era feliz e dizia: "nem falta me faz".


(*)

Fernando Fernández-Savater Martín, S. Sebastián, (21/07/1947), é um escritor, novelista, tradutor, autor dramático e filósofo español. Actualmente é catedrático de Filosofía na Universidad Complutense de Madrid. Colaborador habitual do jornal EL País desde a sua fundação, é adjunto do director na revista Claves para la Razón Práctica.

"En la sociedad laica tienen acogida las creencias religiosas en cuanto derecho de quienes las asumen, pero no como deber que pueda imponerse a nadie. De modo que es necesaria una disposición secularizada y tolerante de la religión, incompatible con la visión integrista que tiende a convertir los dogmas propios en obligaciones sociales para otros o para todos. Lo mismo resulta válido para las demás formas de cultura comunitaria, aunque no sean estrictamente religiosas, tal como dice Tzvetan Todorov: «Pertenecer a una comunidad es, ciertamente, un derecho del individuo pero en modo alguno un deber; las comunidades son bienvenidas en el seno de la democracia, pero sólo a condición de que no engendren desigualdades e intolerancia» (Memoria del mal)."





(**)

Antonio Machado Sevilha,(1875-1939).
O maior poeta da geração contemporânea espanhola.
Entre outros, autor de Campos de Costela, Novas Canções, Outros Poemas, etc.


"Anoche cuando dormía
soñé, bendita ilusión,

que una fontana fluía

dentro de mi corazón.

Di, por qué acequia escondida,

agua, vienes hasta mí,

manantial de nueva vida

en donde nunca bebí?"



À noite quando dormia
sonhei, bendita ilusão.
que uma fonte fluía
dentro do meu coração.

Diz, por que seca escondida,
água, vens até mim,
manancial de nova vida
de onde nunca bebi?

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