quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

TRADIÇÃO FAMILIAR





Já não se oferece mais o "tratamento familiar", que em algumas pensões baratas.

Parece que a instituição, também chamada "primeira célula social" por alguns fisiólogos, está em decadência.

Os divórcios à pressão, que tornam as separações fulminantes e, as clínicas onde se pratica o aborto de urgência, não só têm preocupado os moralistas, como também os demógrafos.

Não acredito que o risco seja tão iminente.

Enquanto os seres humanos tenham, como no poema de César Vallejo (*), um certificado que prova que nasceram muito pequenos, existirá a família.

Há que apoiar-se nela, assim como nas suas variantes sucessivas: os amigos, o clã ou partido e a mafia.

O caso é não estar só e não deixar só os demais.

O Cardeal Cañizares, (arcebispo de Toledo e primaz de Espanha, apresenta o Evangelho como força capaz de renovar a vida de cada pessoa e da sociedade), que talvez tenha sido menos dúctil do que o foi, no seu tempo, o Cardeal
Richelieu, diz que "a razão cristã do matrimónio é a que está inscrita na natureza".

É muito dizer!

Supostamente, o que ajuda que se mantenha a família, não teve que manter nenhuma.

Na turbulenta história da Humanidade, a congregação familiar já existia muito antes da vinda de Cristo, (se houve algum Cristo!).

Uma prova irrefutável é que a Sagrada Família já existia e já se falava dela, quando Jesus de Nazaré ou Nazareth, era pequeno e jogava com os outros miúdos sem saber que era o Menino Jesus.

O encontro, de famílias, que se realizou em Madrid, há um par de semanas, congregou, segundo os organizadores, (aqui lá voltam as estatísticas), cerca de 150.000 pessoas, não famílias, NUM UNIVERSO DE 50 MILHÓES DE HABITANTES!!!).

Falaram de educação dos filhos, da fidelidade conjugal e de outros assuntos a quem alguém chamou de "querido polvo familiar", não faltando dizer mal do governo, da despenalização do aborto e outros dogmas sacrossantos que a igreja costuma invectivar quando pode.

Na minha opinião, não só são fortes os seus tentáculos, como a sua tinta é indelével.

Acostumemo-nos a chamar tradição a algo que necessita de ajudas para continuar os seus cerimoniais.

O resto é a conversa costumeira dos mesmos "santos"!

(*)

CÉSAR VALLEJO, (1892-1938)
Em 1918 publica o seu primeiro livro de poemas: Los heraldos negros.
Em 1920 é acusado injustamente e encarcerado durante 112 días.
Em 1922 publica Trilce; um ano depois, publica algumas prosas e viaja até Paris.
Em 1928 viaja para a União Soviética e no seu regresso a Paris rompe com a APRA
, (Alianza Popular Revolucionaria Americana).
Em 1929 regressa à União Soviética e um ano depois viaja para Espanha.
Regressa a Paris mas é expulso por razões políticas; muda-se novamente para Espanha.
Em 1931 publica a sua novela Tugsteno.
Viaja de novo para a União Soviética e inscreve-se no Partido Comunista de Espanha.
Em 1932 regressa a Paris e vive na ilegalidade.
Em 1937 assiste ao Congresso de Escritores Antifascistas em Madrid.
Morreu em Paris, em 1938.
Em 1939 editam-se, postumamente, os Poemas humanos.



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