sábado, 24 de novembro de 2007

O ENCONTRO





A última vez que a vi foi em 1990, mas não pudemos ficar com nada porque ela foi viver para Londres.

Tão pouco posso dizer que a vira, já que estava de costas.

Nem me recordo como se chamava.

Diz-se que é curto o amor e grande o esquecimento, mas no meu caso é ao contrário.

O meu grande amor só me permitiu esquecer o seu nome, não o resquício do seu fogaréu, que continua a aquecer-me o coração.

Agora poderei voltar a encontrá-la, não a sós, mas sim entre muita gente.

O caso é para voltar a vê-la.

Ainda que não me recorde do seu nome, tenho-a indelevelmente em memória.

Creio que ia para sereia.

Uma sereia toda de carne na qual se notava uma certa indolência aprazível.

Não virou nunca a cara, só o seu reflexo, mas não me pode ocultar as suas ancas bem torneadas, nem o escorço, mais de violino que de guitarra.

17 anos de ausência são mais do que suficientes para apagar uma fogueira interior, por muito que iluminasse nesse momento.

Soube dela pelas vicissitudes da sua vida.

Soube pela imprensa que tinha sofrido um atentado.

Uma sufragista do seu país de acolhimento, sem dúvidas de rígidos costumes morais, assestou uma punhalada nas gloriosas nádegas.

Recompôs-se pouco depois, graças aos cirurgiões, mas esteve em convalescença uma temporada.

Logo de seguida a sua vida foi aprazível, rodeada de admiradores.

Porque foi tão poucas vezes a Madrid?

E o que é mais estranho: porque ninguém a pode contemplar de frente?

A julgar pelo reverso, devia ser duplamente prodigioso.

Dentro duns meses, (no Verão), vou voltar a vê-la.

Temos um encontro unilateral.

Todos a conhecem como a "A Vénus do Espelho" e está pendurada no Museu do Prado.

Agora me recordo.

Chamava-se Olimpia.

Sim,

Olimpia Triunf.

Dizem que Velázquez teve um filho dela, mas pode ser que sejam só falatórios.


1 comentário:

Vladimir disse...

amigo a vida é assim...ironia à parte está maravilhoso...