terça-feira, 13 de novembro de 2007

A INTIMIDADE DE CADA UM !





La persistencia de la memoria, Salvador Dali


Aos homens públicos torna-se muito difícil manter em segredo a sua intimidade.

Sucede o contrário ás mulheres públicas, donde ambas as coisas estão interligadas.

Agora fareja-se a conduta dos políticos, nos escassos tempos que procuram estar longe da política, quiçá para se desintoxicarem ou para comprovarem que não há nenhum lugar pior.

No Reino Unido há detectives que indagam comportamentos homossexuais, como se fosse incompatível ser um bom gestor da comunidade com o preferir das coristas pelos camionistas.

Ser ligeiramente efeminado, segundo o acerto expressivo de Fidel Castro, não inabilita para dedicar-se ao bem comum.

Tão-pouco o contrário.

Os biógrafos de Miterrand, que não publicaram os seus livros enquanto foi vivo o protagonista, descobriram-lhe relações secretas que todo o mundo conhecia, a par de filhos desconhecidos que todo o mundo conhece.

Esse letreiro que diz, quase sempre em letras garrafais, "Proibida a entrada, zona privada", não combina em política.

Segundo José Ortega (*), que foi um dos poucos espanhóis que utilizou a cabeça para pensar em vez de investir contra os seus compatriotas, disse que o mandar deve ser "um anexo da exemplaridade".

Mas até que ponto se pode ser exemplar em coisas que não servem mais de exemplo aos que indagam nas vicissitudes, caprichos ou peripécias sentimentais de pessoas publicamente relevantes.

Kim Jong-II, o ditador norte coreano deve ser execrado por apilhar uma fortuna de mais de 3000 milhões de euros, não por gostar de mulheres e tomar uns copos com elas nos momentos livres.

O presidente de Israel, Moshe Katsav acusado de abusos sexuais e actos indecentes, merece a desaprovação por outras coisas, além do mais, presumivelmente, por essas.

Quero dizer que é preferível que os deuses nos dêem um bom político que uma boa pessoa.

Há menos!

(*) José Ortega y Gasset, 09Mai1883/18OUT1954, espanhol, foi um dos maiores aforistas, (ditos sentenciosos), da humanidade. Até 1910 defende uma filosofia de tendência objectivista, na qual se dá um primado ás coisas e ás ideias sobre as pessoas. A partir de 1914, muda completamente o pensamento, primeiro para descobrir as causas do perspectivismo e posteriormente, (1924), o sentenciar humorístico da vida contemporânea em Espanha. Alguns livros: As Atlântidas, A desumanização da Arte, Ideias e Crenças, O Tema do Nosso Tempo e muitos outros.


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