


S. João da Cruz, (João de Yepes, espanhol), que foi um anjo extraviado, anoitecia ou escurecia por dentro, mas agora, somos nós que anoitecemos por decreto.
O seu era uma noite escura da alma, mas ele tinha uma luz que o guiava e nós só temos a lanterna dos lanterninhas governamentais, que, diga-se a propósito, têm muito poucas luzes.
Agora, uma vez feitas as contas, explicam-nos que a mudança horária vem a ser uma besteira ou estupidez, já que determina, depois de descontrolar os relógios, uma "economia zero".
Por que será que a partir das seis da tarde, vejo tudo negro?
A quem é que terá ocorrido isto?
Até agora, deitava um olhar para o mar na sua hora mais pesarosa ou contrita, um pouco antes de se expandir "a veemência laranja do poente", no repetido e exacto momento em que os oceanos, que são sempre o mesmo, se arrependem dos seus afogados.
Agora não se vê nada.
O único que temos conseguido com essa modificação horária oficial na Primavera e no Outono, é reduzir a factura da luz em 0,5 %, ou seja, mais ou menos seis euros ao ano por cada habitação portuguesa, incluindo os que só usam velas e os que vivem ás escuras.
Um objectivo muito maior se obteria noutros países, onde subsiste a pena de morte se se tivesse desligado a cadeira eléctrica, como sistema de execução.
Parece, segundo os que apresentam as contas, que o que se poupa de manhã, se gasta pela tarde, mas para o caso, eu, que nunca fui um poupador, vejo tudo negro desde a minha janela a meio da tarde e isso faz-me raciocinar, na medida das minhas modestas possibilidades, sobre a felicidade possível.
Quando há pouca luz sinto-me mais infeliz.
Ao fim e ao cabo sou um austral e os dias luminosos ressarcem-me de inevitáveis trevas interiores.
Juan Wolfrang Goethe morreu, reclamando "luz, mais luz".
Eu, que não sou Goethe, nem nenhuma criatura parecida, conformo-me com a de antes da mudança horária !!!
1 comentário:
lindo blog, fartei-me de rir com as figuras humoristicas xD
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