domingo, 2 de março de 2008

PARA SUBIR AO CÉU









O Vaticano, com o sossego, a calma e o bom juízo que sempre o caracterizou, desde a noite dos tempos, que normalmente procura manter, acaba de aprovar um documento pedindo mais rigor nas beatificações.

A verdade é que nos altares começa a haver "over-booking".

A aglomeração só é comparável aquelas remotas épocas onde, segundo Anatole France, (*), os desertos estavam povoados de anacoretas ou eremitas.

Parece-me que havia tantos, que não se podia dar um passo sobre a minuciosa areia, sem pisar algum.

Agora, passados os séculos sigilosos, há tantos exemplares de criaturas transitórias que começam a estorvar-se uns aos outros, originando problemas de circulação no Paraíso.

Para colocar ordem nesta vaga de beatificações, não se irá restringir as eminentes virtudes que se requerem: basta endurecer os regulamentos.

Não é necessário achicar ou diminuir as portas de entrada, mas sim conceder menos autorizações de admissão.

As novas normas que devem cumprir os processos de beatificação e canonização, excluídos os santos de alta velocidade, que ultrapassam sempre os que morreram, cuidando de leprosos em Molokay, (**)ou num seu bairro, serão muito mais rigorosas.

O novo guia não as vai modificar, mas sim adoptar.

Para ser mártir, por exemplo, não é necessário abnegação, mas sim má sorte.

Exceptuando algumas vocações muito específicas, muitos não procuraram o martírio.
Simplesmente encontraram-no.

Há que fiar mais fino esse fio azul que utiliza Deus para os puxar para o céu.

E está bem outorgar a santidade a quem a assegure, que lhes apareceu a Virgem, falando-lhes em perfeito português, se bem que, com um ligeiro acentuado ribatejano.

O Vaticano quer mais rigor, já que ultimamente as admissões estão rodeadas de "alguma confusão".

Há ternos pastorinhos e corcovadas personagens na ponta do fio.

Para se encomendar alguém é imprescindível ter as mínimas garantias.

(*)
Anatole France.
Pseudónimo do escritor francês Jacques Anatole François Thimbaut (16/4/1844-12/10/1924).
Galardoado com o Prémio Nobel de Literatura em 1921.


(**)
MOLOKAY, (HAVAI).
É uma pequena ilha que se destaca pelas paisagens naturais, como Halawa Vallet, um vale de campos de flores junto às praias de areia preta ou, Papahoku Beach, com as suas areias brancas ou os rochedos marítimos de maior altura do planeta.
Molokay é famosa, também, por ser a ilha que o Padre Damião escolheu, para instalar um leprosório.
Ainda hoje, pode fazer uma visita à Kalaupapa Peninsula, que continua à ser um pequeno paraíso para os doentes.


2 comentários:

mac disse...

Ou então basta financiar a Igreja, como fez Josemaria Escrivá de Balaguer, e já se pode ser santo.

xistosa, josé torres disse...

Mas este é um caso paradigmático de que o dinheiro até compra a vida, dentro do possível.

A Opus Dei, sempre foi um império que se desenvolveu rapidamente em menos dum século.

Aos apressados há que beatificá-los rapidamente, antes que desistam.