sexta-feira, 14 de setembro de 2007

DOENÇAS CARDÍACAS EM DESPORTISTAS :





Por que é que, ser um atleta de elite não é sinónimo de saúde?


Existe hoje um consenso geral entre os médicos de que o desporto profissional, como praticado actualmente, é nocivo à saúde.
Isto porque, com as pressões das competições, os atletas, sobretudo os chamados “atletas de elite”, são levados até ao limite do corpo.

A busca pelas quebras de recordes e pelos centésimos de segundo decisivos, apontam para o facto de que a capacidade física máxima do ser humano está na fronteira do limite.

O melhor atleta será aquele que se sacrificar um pouco mais para atingir tal meta.

Esse esforço exagerado acarreta, ao longo do tempo, desgastes físicos e psicológicos.

Além dos tradicionais males dos desportistas, como fracturas, rupturas ou deslocamentos ósseos e musculares, que levam os atletas ao abandono ou a um período de afastamento do desporto, há as doenças oriundas de problemas cardíacos, seja consequência de uma predisposição genética ou acarretada e agravada pela sobrecarga de exercícios.

Quando pensamos em pessoas cardíacas, associamos a pessoas sedentárias, de maus hábitos alimentares e submetidas ao constante “stress quotidiano”.

Assim, é bastante chocante quando atletas de destaque sofrem, por exemplo, morte súbita em plena competição.

O porte atlético e as habilidades de muitos jovens atletas escondem a fragilidade dos seus corpos e o extenso esforço dos mesmos para executar as suas exaustivas tarefas diárias.

Ao iniciar um exercício físico, a primeira reacção fisiológica do corpo é o aumento do fluxo respiratório e sanguíneo como resposta à aceleração do metabolismo, que numa maratona chega até 2.000 % acima do normal, (uma pessoa com febre tem o metabolismo 100% mais acelerado), com consequente elevação na demanda de oxigénio.

A distribuição dessa alta taxa de oxigénio para os tecidos é suprida com o aumento da frequência cardíaca.

Durante a prática saudável de exercícios físicos, a frequência cardíaca é constantemente monitorizada, o seu valor máximo varia conforme o sexo e a idade do praticante.

Ao ultrapassar muito esse limite, há um aumento da libertação de radicais livres, relacionados com processos degenerativos, associada com o aumento do consumo de oxigénio.

É claro que uma melhor preparação física suporta exercícios mais intensos com menor frequência cardíaca e assim menor produção de radicais livres.

Ainda assim, por mais preparados que os atletas de elite possam estar, além de treinarem diariamente, isto é, sem passar pelo período de repouso que pode causar a “Síndrome de Overtraining”, (é caracterizado por uma redução inexplicada do desempenho e da resposta ao treino em indivíduos saudáveis), os exercícios são feitos até à exaustão.

Na prática desportiva, o coração é o órgão mais exigido do corpo.
Ele é o um dos factores determinantes no desempenho máximo dos atletas.

Muitas vezes a presença de grande massa muscular esquelética, (aquela associada a movimentação do corpo), pode não ser uma vantagem quando a eficiência do coração for baixa.

Os maratonistas que conseguem maior aumento do débito cardíaco, com a prática de exercícios, são os que, em geral, conseguem quebrar os recordes de tempo.

Esta exigência constante da massa muscular cardíaca leva a um aumento do volume da mesma.

Por outras palavras, durante o treino atlético não são apenas os músculos esqueléticos que se hipertrofiam, mas também o coração.
Esse aumento está associado a uma maior capacidade de bombeamento do sangue.

O coração de um maratonista é consideravelmente maior que o de uma pessoa normal, tendo um aumento de 50% a 75% na massa cardíaca.

Este aumento exagerado do coração pode estar relacionado com os problemas cardíacos em atletas de elite.

A contracção do músculo cardíaco é controlada por sinais eléctricos transmitidos por sensores nervosos localizados na parede das câmaras cardíacas.
Esses sinais são despertados por estímulos sensitivos que indicam o estiramento da parede das câmaras do coração quando preenchidas com o sangue e controlam as duas fases de contracção, a sístole e a diástole.

O aumento do coração pode levar a uma alteração da inundação dos ventrículos pelo sangue e consequente desritmia cardíaca.

Além disso, o espessamento das paredes pode levar a uma obstrução na cavidade ventricular esquerda e prejudicar o funcionamento e eficiência no bombeamento do sangue.

Assim, é de extrema importância fazer uma avaliação física detalhada antes da prática vigorosa de exercícios.

Muitas vezes a busca pela saúde e beleza físicas podem acabar por ser prejudicais em casos de pessoas, jovens ou velhos, que apresentam alguma predisposição genética, como em muitos casos de hipertrofia cardiomiopática, responsável por 36% dos casos de morte súbita em jovens atletas.

É claro que, de modo geral, a prática regular de exercícios é um hábito saudável, a curto e longo prazo, já que ela aumenta a eficiência cárdio-respiratória, deixando os praticantes menos susceptíveis ás doenças oportunistas e levando a uma recuperação mais rápida de possíveis enfermidades, já que há uma maior eficiência de oxigenação dos tecidos.

Mas este facto pode muitas vezes ocultar problemas individuais sérios de saúde e, assim, necessidade de acompanhamento médico nas práticas desportivas.

(Camila Yumi Mandai- Bióloga)



Sem comentários: