
Até agora eram muito mais infrequentes do que os casos de maus tratos dos pais para com os filhos e já não falamos dos maridos para com as suas esposas.
Significa isto que variou bruscamente a natureza humana, ou o que foi feito de modo gradual à instituição familiar?
Temos de resistir e admitir que a chamada "primeira célula social" contraiu uma doença gravíssima e que está criando metástases.
Observou Nabokov (*), que todas as famílias felizes são mais ou menos diferentes, mas todas as famílias desgraçadas são iguais, mas agora é mais difícil reparar essas desigualdades porque as bem acomodadas, ou bem resignadas, escasseiam.
É simplesmente desolador informar-se do número de miúdos e adolescentes que pedem socorro ao benemérito, Instituto de Apoio à Criança, ou SOS Criança.

Criaturas recentes vêem-se obrigadas, muito cedo, a aprender a que lugar inóspito os trouxeram uns senhores a quem não lhes pediram que os vestissem.
Têm problemas de todas as classes, desde os psicológicos aos sexuais, mas o principal é perceber que ninguém lhe liga,
Quem acredita, não só na família "quiçá menos nos números que não o merecem", mas sim nos amigos, no clã e até na máfia, admiramo-nos todavia mais que um pai o faça deliberadamente a um filho, que o inverso.
As drogas, o divórcio, que pode ser benéfico e o desemprego sem dúvida contribuem para o estado das coisas, mas não o justificam porque não tem justificação.
Contava Tono (**), que fugiu duma pensão porque viu um letreiro que oferecia "Tratamento familiar".
Para muitos o mundo é "uma bagunçada hospedaria", onde aliás não dão de comer.

(*)
Dmitrievich Vladimir Nabokov (1870 - 1922), criminalista russo, jornalista e político liberal.
(**)
Antonio de Lara Gavilán, (1896 – 1978), conhecido pelo pseudónimo de "TONO", deixou a sua marca, ao longo da sua vida profissional como caricaturista, cartoonista, escritor, autor de teatro e até chegaria a alcançar fama e sorte no cinema.
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