domingo, 7 de setembro de 2008

BILHETES para a MORTE!


.Antes de descolar até ás extensas regiões da morte, já havia uma intensa desconfiança entre os passageiros.

As demoras não lhes deixavam boas indicações e esses pequenos aparelhos que chegaram a fazer parte do nosso ouvido externo estavam a pleno rendimento.

As mensagens vão durar mais do que aqueles que as emitiram.

Em muitas casas ficaram gravadas as últimas conversações.

Por que soa diferente a voz de um morto?

É a mesma, absolutamente a mesma que emitia quando estava vivo, mas há algo que mudou: já não pode dizer nada.

A morte cortou-lhe a palavra da boca, o que é sempre um falta de educação.

Agora as vítimas exigem informação.

Não pedem psicólogos com o seu manual de tópicos de instruções.

Nem querem políticos, com o seu habitual reportório de promessas de rápido cumprimento.

O que querem saber é porque se passou o que se passou.

Mais nada, ainda que seja de todo irremediável, mas se se podia evitar o que se passou.




O mecânico declarou que a primeira avaria não causou o acidente, mas para as famílias dos que faleceram é igual que os motivos da catástrofe sejam outros.

O MD-82 espatifou-se oito dias antes de renovar a permissão de navegação e a questionada Companhia Spanair, tinha passado em 22 revisões na EU.

Tão-pouco este dado garante muitas coisas.

Há tribunais benévolos.

Quem ficou bruscamente sem as pessoas que mais queriam querem conhecer a verdade.

É certo que o saber não ocupa lugar, mas ocupa tempo e alguma vez se fará luz na obscuridade.

Chamar-lhe-emos incompetência ou negligência, que são palavras com que podemos nomear a fatalidade.

Dos que morreram só ficaram as suas últimas conversações.

Quando ainda não sabiam que eram as últimas.





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