quarta-feira, 13 de agosto de 2008

OLIMPISMO FORA DO OLIMPO


Os Jogos Olímpicos projectam-se a cada quatro anos como uma oportunidade excepcional para realçar o valor competitivo do desporto e princípios tão apreciados como a recompensa do esforço pessoal, a satisfação do trabalho em equipa ou a irmandade pacífica entre os povos.

O encontro olímpico converteu-se, seguramente, no espectáculo que melhor representa as potencialidades dum mundo global, naquele que a exaustiva planificação e a busca de rentabilidades materiais, esfumaram o romanesco associado aos Jogos.

Mas nem a sua paulatina profissionalização, nem a imprescindível maquinaria que os sustenta impedem de apreciá-los tal como são, uma festa colectiva que premeia a entrega dos desportistas, o seu talento e a maneira como ele melhor se reflecte no espírito olímpico.

Por isso, todos e cada um dos mais de, 11.000 atletas, que competirão pelo pódio de honra na China, voltarão a ter perante si o desafio nu, de cumprir ou não com as suas expectativas e as da equipa a que pertencem.

Este desafio adquiriu nesta ocasião um significado especial para as dezenas de membros da delegação portuguesa, (a maior de sempre), de quem se espera um nível competitivo de acordo com as expectativas que todos ansiamos e as dos próprios atletas, sabendo-se quão subjectiva pode ser atingir o pódio ou cair do pedestal.


Os recursos humanos e económicos que mobiliza qualquer convocatória olímpica, transbordaram na China, cujas autoridades pretendem apresentar credenciais ante o mundo, como uma grande potencia capaz de organizar um evento desta envergadura e garantir a segurança ante ameaças do terrorismo.

Os meios dispensados auguram uns Jogos brilhantes.

Mas a sua exibição não bastará para fazer calar, nem as críticas contra a vulneração dos direitos humanos no país, que provocou um dos percursos mais acidentados da tocha olímpica, nem o questionável que suscitou a concessão dos Jogos a um Estado regido por um autoritário regime que impede e persegue qualquer dissidência.

As restrições ao trabalho informativo dos jornalistas, o controlo das comunicações e a evidência de que o Governo de Pequim incidiu nalgumas das suas posições mais antidemocráticas, constatam a incapacidade da comunidade internacional para articular uma fórmula de pressão mais efectiva na defesa das liberdades no país, que preserva no tempo, a aspiração dos atletas verem realizados o seu sonho de competir nos Jogos.

O COI e os comités nacionais, como o português, justificaram o silêncio imposto aos desportistas, para que se não pronunciem sobre controvérsias políticas nos limites da própria Carta Olímpica, à expressão desse tipo de opiniões éticas mais elementares.



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