Na prisão da base de Guantánamo, que deve ser o local mais parecido a uma sucursal do inferno, está a ser julgado, Salim Hamdan, o motorista de Bin Laden.
Querem que diga a direcção para onde, ou onde o levou pela última vez, para terem alguma pista do fantasmagórico líder, mas também o acusam de ter atropelado muita gente e nem sempre na estrada.
O mais provável é que o culpem da subida do preço do petróleo, já que não reparava em gastos e dizia sempre que chegava a uma gasolineira, "ateste, por favor!"
O que se pode esperar da Justiça quando a ilustre dama condescende visitar Guantánamo?
É como se Maria Goreti (*), tivesse decidido hospedar-se numa pensão rasca de estrada.
Bertolt Brecht deixou-nos dito que há muitos juízes incorruptíveis, já que ninguém os pode induzir a fazer justiça.
A Justiça, que é de linhagem divina, pode ser sempre questionada em tempos de paz, mas em tempos de guerra ou de imediato pós-guerra, desaparece.
Simplesmente não existe e portanto não pode ser vulnerável.
Exercem-na os vencedores, que se converteram em juízes e parte da pilhagem.
Agrupam em cárceres os "combatentes inimigos", incluindo os que jamais combateram e os culpam de criminosos de guerra.
Como ia matar alguém, o motorista de Bin Laden, se tinha, todo o tempo as mãos no volante?
Nalguns momentos históricos, necessita-se mais do que noutros, de culpados, enquanto isso, quanto mais comprida melhor.
Nem sempre se consegue uma peça importante, como o líder sérvio, Karadzic, mais conhecido como o "carniceiro de saravejo", que andava fugido há 12 anos e agora foi capturado.
Em muitas ocasiões temos que nos conformar com peças menores: o dentista de Hitler, o cabeleireiro de Petain.
O que é necessário é vingança …
(*)
Maria Goretti (1890-1902) foi uma jovem católica italiana, declarada santa.
Em 1899, a sua família mudou-se para Nettuno, onde viviam no mesmo edifício com a família Serenelli.
Aos doze anos de idade Maria Goretti foi atacada pelo vizinho Alessandro Serenelli (1882-1972).
No dia 5 de Julho de 1902, Alessandro tentou violar Goretti, ameaçando-a com uma faca, mas a menina ajoelhou-se com medo de que Alessandro fosse para o inferno e perante a recusa da menina, Serenelli esfaqueou-a 14 vezes.
Inspirada nas suas mestras Santa Cecília e Santa Inês, aceitou o martírio piedosamente. No dia seguinte, depois de perdoar ao seu assassino, Maria Goretti faleceu.
Alessandro Serenelli foi julgado e condenado a 27 anos de prisão.
Arrependido, tornou-se num membro da ordem Terceira dos Capuchinhos, que lhe deram abrigo.
Em 24 de Junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Maria Goretti, numa cerimónia a que assistiu a sua mãe, Assunta e o seu assassino, Alessandro.
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