sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

FOTOGENIAS







Adverte António Machado, (*) em, "Juan de Mairena" que, para um homem público, é tão grave não ficar bem em público, como para uma mulher pública não ficar bem em privado.

Daí que os políticos cuidem extremamente a imagem que projectam, que nem sempre coincide com a verdadeira.

Regra geral, para cair bem, utilizam as crianças, os mendigos e os cegos.

Por cá, fazem-se passar por passarinhos e vão esvoaçar e cagar para os Zés e as Marias deste rectângulo, normalmente em mercados e feiras.

Vendem a mercadoria toda bem impingida por força da lábia bem decorada nos compêndios da igreja.

Quem pode desaproveitar, quando falta pouco tempo para que a gente opte pelos menos indesejáveis, para não se perpetuar junto a algum componente destas confrarias?

Aos líderes melhora-se-lhes o perfil, pelo menos o exterior, quando se mostram sorridentes junto a uma criatura de poucos anos, sobretudo se vive nalgum orfanato.

Tão-pouco estão mal vistos quando se mostrem afectuosos com um desses pobres que não dão um ai, já que quase ninguém lhes dá uma moeda para o prato, mas o mais eficaz é que ajudem a cruzar a calçada a um cego, ainda que o cego não tenha a menor ideia de atravessá-la e oponha uma resistência moderada ao acto de trasladá-lo.

A urgência para recrutar votantes indecisos, com a condição de existir um fotógrafo por perto, é uma prática quase universal.

Inclusivamente os últimos papas, colocaram, se bem que por breves momentos, chapéus regionais para demonstrar inequivocamente que o país do planalto que visitavam, figurava entre as preferências do Sumo Fazedor.

Agora, a candidata Clinton, esposa do ex presidente, aparece fotografada junto a uma criança mexicana, com o uniforme de gala de lugar tenente de Pancho Villa.

O seu rival Obama está a comer-lhe terreno, mas como não o pode acusar de canibal, quer captar o eleitorado hispano e vê-se na necessidade de recorrer a tudo.

Tem que ganhar no Texas e no Ohio, mas a sua campanha depende dos chefes de campanha.

São os marechais de imagem.

(*)
Antonio Machado (1875-1939) poeta espanhol, cujo pseudónimo era Juan de Mairena.

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