Sempre esteve na moda pedir dinheiro, mas agora o que mais se ouve é pedir perdão.
Curiosamente é mais fácil perdoar agravos que encerrar contas pendentes.
Entendido o perdão como o esquecimento da ofensa recebida, é sem dúvida melhor que a vingança, ainda que essa forma de Alzheimer, possa conter uma dose de crueldade mascarada de desprezo.
Outorgar o nosso perdão a alguém, transforma-nos em superiores relativamente aos perdoados e liberta-nos rancores.
Agora a moda está em pedir perdão.
Já me referi aos pedidos de perdão do papa, não papá, mas sem assento.
Simplesmente papa!
Incluindo o juiz, Gómez Bermúdez (*), em nome da sua mulher, que escreveu um livro ao mesmo tempo que plantava uma árvore da discórdia entre os juízes, promotores públicos e as vítimas.
"Você desculpe", dizemo-lo a muita gente e muitas vezes ao longo do dia.
É uma palavra-frase malbaratada ou esbanjada pelo uso.
O mesmo empregamos para alguém a quem pisámos sem querer, quer na rua quer no autocarro, ou a alguém que vamos a pisar durante um largo tempo.
O mais espectacular das últimas petições, foi o dos bispos.
O presidente do Episcopado Espanhol, ao mesmo tempo que fez sensatas considerações sobre a Lei da Memória Histórica, que não deve reabrir feridas, nem alimentar desavenças, implorou perdão pelas "actuações concretas da Igreja, na Guerra Civil".
É uma lástima que não mencione concretamente quais foram essas concretas afirmações.
Serem mais explícitos é algo que aos monsenhores não só lhes é proibido pelo seu cargo, como pelo seu horóscopo.
Pedem perdão porque o Vaticano concedeu-lhes a sua mais alta condecoração – a Ordem de Cristo – ao triunfador da guerra?
Por levá-lo debaixo dum toldo bordado a ouro e tinto da cor do sangue, quando entrava nas igrejas?
Tenho uma forte ligação a Espanha, onde possuo família, há muitos, muitos anos.
Lembro-me, era pequeno, teria oito anos, quando soube que alguém próximo tinha morrido na voragem duma guerra civil que acabara há uns anos.
Nem oito, nem oitenta, mas espero ser incluído no perdão que suplicam alguns deles que têm mais cara que costas.
E o é pior, é que têm mais cara que Cruz.
O presidente do Conselho Geral do Poder Judicial, CGPJ, espanhol, mandou instaurar um inquérito, sobre o livro da jornalista, Elisa Beni, casada com o juiz, Gómez Bermúdez, que foi o juiz encarregue do julgamento dos implicados nos atentados de 11-M, (11 de Março de 2004).
O próprio Gómez Bermúdez, tinha pedido a abertura desse inquérito, para poder provar que nada tem a ver, quer disciplinar, quer estatutariamente com o caso.
O livro relaciona-se sobre com o processo judicial dos atentados 11-M e recebeu críticas profundas de todos os quadrantes, quer da vida judicial, quer políticos e até amigos do juiz, bem como da família de algumas das vítimas dos atentados.
A Comissão de Comunicação do Conselho, vai analisar o conteúdo do livro e a actuação da autora, Elisa Beni, que também pertence ao CGPJ, já que é a directora de Comunicação do Tribunal Superior de Justiça de Madrid.
Ambos, marido e mulher, já tinham publicado o livro, "Levantando el velo. Manual de periodismo" (Levantando o véu. Manuel do jornalismo)
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