sexta-feira, 4 de abril de 2008

PAGADORES DE PROMESSAS





Diz-se que triunfar, o que se chama triunfar, consiste em ter o dinheiro suficiente para fazer frente a todos os compromissos e obrigações que nunca se teriam no caso de não se haver triunfado.

Também deve ser aproximadamente o mesmo nas vitórias eleitorais.

Um certo número de cidadãos, donos de uma grande memória e de uma pasta, não mais pequena, começam a recordar aos triunfadores todas as promessas que fizeram para conseguir o triunfo.

Disse Quevedo, (*) que olhava para as ofertas como para espias, mas nós vemo-las como ofertas dos grandes armazéns.

Ainda que não as creiamos á medida, exigimos o seu inteiro cumprimento.

Em pior transe vêem-se os derrotados, ainda que estejam isentos de ter de realizá-las.

A sua vantagem é só comparável á das crianças órfãs, que não têm que fazer ofertas no chamado Dia do Pai.

Aos perdedores, ninguém lhes vai pedir contas, porque além do mais não são eles que as transportam.

Em oposição, ao ganhador vão chover-lhe os credores morais.

A coisa começou a agoniar o homem forte da economia espanhola, Pedro Solbes, que vai por acabar de entortar o outro olho, para não ver os seus reclamantes.

Uma coisa é certa, parece-me que já vai mesmo ter de começar a repartir os famosos 400 euros prometidos e arbitrar o procedimento para fazer desaparecer o custo que se supõe existir, se alargar os prazos dos empréstimos.

Os cidadãos verdadeiramente curtidos em democracia não ignoram que os oferecimentos que se fizeram durante a campanha eleitoral, ainda que não tenham leite retardado, caducam como os iogurtes quando passam as eleições.

Devemos ser compreensivos, já que foi sempre assim.

Porquê colocá-lo num aperto quando está a festejar a sua legítima jornada aritmética?

O petróleo, nos EUA, já chegou aos 107,9 dólares por barril.

Como se vai repartir a coisa?

Todos em fila.

De quem é a vez?

(*)
Quevedo, Francisco Gómez de Quevedo y Santibáñez Villegas (1580 - 1645), foi um escritor e pensador espanhol.

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