quarta-feira, 11 de junho de 2008
A PRÓXIMA SEMANA
Não deixa de ser confortadora a disposição de ânimo do Governo de José Sócrates, que está disposto a afrontar, quiçá a semana mais difícil desde a sua chegada ao poder e dar-se conta de que não pode solucionar as coisas, só com sorrisos e promessas.
Agora deve reconhecer que o espera uma semana negra, que para nossa desgraça, pode durar vários semestres.
Tudo se desencadeou rapidamente, menos o terrorismo que vai indo e seguindo o seu caminho.
As greves dos camionistas e pescadores e a paragem da frota de pesca, podem mudar radicalmente o nosso regime alimentar, mas isso só ocorrerá se entretanto tenhamos algo para comer.
Não teria graça nenhuma que a minha vida fosse uma capicua.
Nasci depois dos bombardeios e os meus pais estiveram em todas as filas.
Pelo que me contaram não perderam uma: a do pão, que era de milho, a de comida, que era de grude e a do tabaco que era de picar.
Agora começam-se a ver filas e o pior delas é que há muita gente pedindo a vez, mas parece-me que não têm comparação com as de antanho.
Essas sim, eram filas.
Fileiras monacais de esfomeados que levavam como companhia a sua caderneta de racionamento.
Um livro ajuda sempre a triunfar.
Creio que talvez tenha herdado daí a minha afeição pela leitura.
A calçada ou o passeio foram a minha biblioteca e a da minha geração, já que líamos cuidadosamente as folhas de jornais que embrulhavam os jornais para os vendedores, para não nos equivocarmos e ficávamos a jejuar até ao outro dia, que por certo era o dia seguinte.
Que ninguém me diga que não se pode exagerar.
Se há que exagerar.
Não se pode desabastecer as gasolineiras e os supermercados.
Não se pode abusar dos camionistas e dos pescadores.
Não se pode permanecer de braços cruzados nem sequer para pedir perdão pelo mal que se está a fazer.
A crise estava-se mesmo a ver que vinha.
E fizeram-na não só os cegos, como os surdos.
Mas vamos ser todos a pagá-la!!!
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