John McCain, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, é mais velho que Manuela Moura Guedes, na suposição de que não se trate da mesma pessoa.
Isso todo o mundo o sabe, inclusive os seus votantes e não necessita de divulgação.
O que não é licito é aproveitar-se dos seus íntimos calendários.
Quando Avellaneda, (*), acusou Cervantes de velho, este contesta-o, que nas suas mãos não estava o poder de "deter o tempo".
Se bem se olha, chamar a alguém velho com a intenção de insulto, só está ao alcance de alguns cretinos um pouco mais jovens.
Para defender-se desse tipo de ataques cronológicos, McCain difundiu o seu relatório médico.
Um erro e crasso.
Pode-se ter um bom estado físico, quando se submete a ele, mas já ser totalmente diferente no dia seguinte.
Todos conhecemos "carcaças velhas" que asseguram que estão como nunca.
Querem dizer que estão como sempre, sãos como um pêro, o que é mentira.
Ainda que façam "footing" e adquiram um fato de treino de cores berrantes, numa certa idade, há uma coisa que adquiriram com a certeza idosa: que "aqui" não se vem para sempre.
Ainda que a alguns privilegiados não os afecte essa crise da esperança que a velhice subentende, fazer planos a longa distância demonstra um optimismo só comparável aos que fazem as palavras cruzadas com tinta.
A figura do idoso, ou velho, sempre foi respeitada em todas as civilizações merecedoras deste nome, mas sabendo que esse respeito ia durar pouco tempo.
O caminho para a Casa Branca exige umas grandes condições atléticas e aos veteranos pode-lhes faltar fôlego.
Inclusivamente alguns maduros, sem chegar a podres, chegam exaustos à meta.
Deixaram todas as suas forças na corrida.
McCain tem uma saúde de ferro, mas a fadiga dos metais existe.
Está como um carvalho, mas as árvores também morrem de pé.
(*)
Alonso Fernández de Avellaneda, pseudónimo do autor duma obra apócrifa de D. Quixote, (o segundo volume que ia ser publicado).
Em 1614, Alonso Fernández de Avellaneda publicava por sua conta e ousadia o falso segundo volume de D. Quixote, admitindo já na abertura o plágio, assegurando, entretanto que o seu era "menos fanfarronesco e agressivo que o escrito por Miguel de Cervantes Saavedra na sua primeira parte, e mais humilde que o anterior nas suas novelas, mais satíricas que exemplares, conquanto não pouco engenhosas"
4 comentários:
Estes seus pensamentos são muito interessantes e eu até posso dizer que concordo com quase tudo!..Mas no dia da criança, tratar da velhice, tem algum sentido que me escapa?
Não tenho nenhum dia especial.
Nem mesmo o do meu nascimento, porque não me lembro.
Sou alérgico a comemorações, fictícias, falsas, simuladas , hipócritas, artificiosas, imitativas dum "interior" que não existe na maioria dos seres humanos, não passam de enganosos dias de consumo.
Os consumistas é que criaram estes dias, para lembrarem um nada dos outros 364 ...
O meu pai com os seus 102 anos, antes de falecer, lúcido, dizia o mesmo!!!
angela ladeiro
Não sou apócrifo.
O que tenho que dizer sai logo, nem chega ao cérebro.
O coração mexe-se imediatamente e a boca transmite-lhe as ordens ...
Sou assim ...
Cá em casa, no dia do pai ... também é o dia da mãe.
A minha mulher faz anos ... não teria direito a um dia para festejar o nascimento?
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