O que nos fica de Gaza é todo o ruído e a fúria, mas o resto do mundo continua em silêncio.
Apenas o balbuciar de umas palavras de reprovação ou o rosnar de alguns resmungos.
É difícil escolher entre dois males, quando se suspeita que os dois são piores.
As principais potências do mundo preferem contemplar mortos e contá-los, nos momentos livres.
Como ajudar o Hamas?
Como apoiar Israel?
No Líbano foi um ensaio geral com quase tudo.
Assim é que, as Nações Unidas aguardam um desenlace que não admite elucubrações.
As tropas de elite israelitas partiram em dois a Franja de Gaza, mas do lado palestino não há vítimas de elite.
Uma das peculiaridades das guerras modernas é que morrem mais civis do que militares, o que prova sem qualquer dúvida o nosso grau de civilização.
O que sobrará desse fragmento do planeta, castigado pela Geografia, pela História e, sobretudo pelos seus habitantes?
O dr. Thebussem, (*), melhor dito, escritor, que ocultava o seu nome debaixo desse pseudónimo, disse que, a colecção mais difícil que pode empreender qualquer paciente maníaco, é a de néscios de cidades sitiadas.
Não fica nenhum.
O zero só permite que viva a fome, que também tem os dias contados.
O bloqueio vai continuar enquanto nos gabinetes se discute se se trata de uma "resposta desproporcionada" ou de um justo castigo aos teimosos lançamentos de projécteis dos fanáticos do Hamas.
Salvar o sargento Shalit, (**), pode acarretar a morte de milhares de pessoas e os defuntos têm todos a mesma nacionalidade: eram seres humanos que passavam uma temporada neste planeta belicoso, dividido em parcelas muito desiguais.
Um local cheio de deuses, de bandeiras e de armas.
(*)
Mariano Pardo de Figueroa e de la Serna (1828-1918), foi um escritor espanhol.
Adoptou o exótico pseudónimo de Doctor Thebussem, que não é mais do que o anagrama da palavra "Embustes", em espanhol, juntando-lhe "Th" para dar-lhe um estilo mais germânico, publicando assim, com um pretendido distanciamento de "espanhol estrangeiro", artígos sobre a situação espanhola.
(**)
O cabo Gilad Shalit foi feito refém em 25 de junho de 2006 por militantes palestinianos que entraram em Israel partindo da Faixa de Gaza.
A sua captura provocou uma incursão de tropas israelitas na Faixa de Gaza.
Nas quatro semanas seguintes, mais de cem palestinianos foram mortos pela intervenção militar.
Foi promovido a sargento
.
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