domingo, 1 de março de 2009

PLANETA na LAMA !!!

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Se caísse neste bagunçado e desengonçado planeta um marciano, desses que os antigos livros de quadradinhos representavam como malévolos bonecos verdes e nervosos, custar-nos-ia muito trabalho explicar-lhes o intrincado sistema financeiro terrícola.

Agora tudo acode à Banca para a socorrer, para que ela, por sua vez, nos possa prestar socorro.

Trata-se de que, tenham muito dinheiro para que possam deixar-nos algum, já que todos sabemos que os bancos, que são catedrais da nossa época, são lugares onde não nos emprestam dinheiro se não somos capazes de demonstrar que temos uma quantidade superior à solicitada.

Ficam longínquas aquelas palavras de Bertold Brecht, que estava convencido de que só há algo pior que assaltar um banco: fundar um banco.

Hoje, se ocorresse a alguém assaltar um, exigir-lhe-iam que depositasse nele uma importância integralmente igual ao roubado.

As entidades financeiras do grande e largo mundo, já despediram mais de 350.000 empregados nos últimos tempos, segundo dados da Organização Mundial do trabalho, mas teme-se que esta cifra se vá acrescentando à medida que o capital das instituições se vê mais sitiado pela recessão.




O novo plano para revitalizar a banca, que nos EUA entrou em vigor há dois ou três dias, é muito discutível: uns, são partidários de injectar mais capital e outros de encerrar o negócio.

Quem não sabe gerir a tasca, encerra o negócio.

Entre nós também não estão muito claras as coisas e o ministro das finanças afirma que o estado está preparado para intervir na banca.

É curioso que quando as coisas vão mal numa nação, mais se fala em nacionalizações.

Talvez seja prematuro falar do termo “corralito” (*), ao estilo argentino, mas que diabo, não é motivo para perguntar, como Valle Inclán (**), que seria deste “curralão” sem sol.

É que já sofremos nas carteiras, há uns bons anitos, que para não irmos tão carregados para a “estranja”, só nos deixavam levar dinheiro para tabaco.

A comida seguia na marmita e nos bolsos das calças, ou no forro dos casacos, as notas para comprarmos a ilusão que nos faltava por cá.

Foi nessa crise de dinheiro, que não o havia, que saíram milhões e milhões de contos, à procura de outros sóis para corarem.

Em tempo de crise há sempre fartura para alguns!



(*)
“Corralito” foi a denominação que a população argentina deu à proibição de levantar dinheiro a prazo, em contas correntes e nas caixas de aforro, imposta pelo governo de Fernando de la Rúa, em 2001.
Esta foi a medida para evitar a saída do dinheiro do sistema bancário e lograr lucros especulativos para os bancos.

(**)
Ramón del Valle-Inclán, 1869/1936, ou comumente, Valle Inclán.
Não é uma tarefa fácil resumir a sua obra nestas breves linhas, pois para além de dramaturgo, narrador e poeta, desenvolveu também uma intensa actividade no âmbito da cultura, da sociedade e da política hispânicas.
É tal a repercussão e o interesse pela sua obra e também pela sua vida, que são inúmeros os investigadores de todas as partes do mundo.


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