quarta-feira, 30 de julho de 2008

- Uma palavra dita a tempo vale mais do que um grande discurso tardio ! (Julio Dinis, romancista português, 1839-1871)

EUTANÁSIA ? ? ?


Aos portugueses, custou-nos sempre muito o trabalho de sermos contemporâneos.

Houve um tempo, quando se queimava o que discutia o enigma geométrico, que propõe a chamada Santíssima Trindade, ou se proibia desviar o curso da História, já que isso poderia supor alterar os planos divinos.

A conquista da racionalidade é muito lenta e não exclui o desamparo dos seres humanos.

Por que o aborto e a morte digna, suscitam tantas controvérsias?

São duas questões, uma inicial e outra final, que devem estar submetidas a critérios e discutir-se serenamente.

Não se trata de ser partidário do PS ou do PSD, ou outro qualquer, mas sim em acreditar que a época em que nos tocou viver é nossa e não pertence aos ancestrais feiticeiros que impuseram os seus inamovíveis regulamentos.

Quem pode discutir que temos direito a morrer com dignidade depois de termos atravessado tantas penalidades?

Por que prolongar uma existência dolorosa e sem esperança de recuperação?

Dizem que toda a vida humana é sagrada, para quem?, dizem …, mas ao que chamamos vida?



Recordo os tempos, não tão remotos, onde uma banda entusiasta de altos clérigos, proibiu, debaixo de não sei que duros castigos de além-túmulo, aliviar os sofrimentos das criaturas afectadas por aquele medicamento chamado "Taladomida".

Ao erro da farmacopeia uniu-se a Teologia, mais precisamente os intérpretes dessa misteriosa ciência.

Nasceram crianças cegas e sem mãos, mas era necessário prolongar a sua vida, mais que não fosse para mostrar a nossa piedade.

Agora debate-se se temos direito a morrer sem sofrimento, quando o desejamos e mais a mais seja a nossa última vontade.

Não penso elogiar os políticos, que regra geral me parecem uma subespécie interessada, mas acredito que Sócrates deveria debater estas questões.

Ânimo vizinho.

A crise mais árdua não é a económica, mas sim a das sobrancelhas para cima.

Que cabeça dura a deles … e a nossa.





Um dos milhentos debates sobre eutanásia AQUI

domingo, 27 de julho de 2008

- É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe.
Por isso, só nos resta apostar.
Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna!
Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico !

(Albert Camus, 1913-1960, escritor francês, nascido na Argélia. Camus é, com Sartre, o escritor mais representativo do existencialismo francês)









A policia francesa encontrou substâncias dopantes no quarto do ciclista espanhol, Moisés Dueñas, mas antes foi necessário registá-la.

O jovem, tinha um controlo positivo por EPO na 4ª etapa da Volta à França e parece que a inspecção domiciliária, durou uma hora.

Bastou essa curta etapa para que Moisés, em vez de atravessar o Mar Vermelho, naufragasse nos revoltos mares da justiça: pode apanhar até 5 anos de prisão e já levou com uma multa de 75.000 euros.

Para se ter um exacto conhecimento do rigor da lei, precisa-se de protagonistas humildes.

Talvez se deva perguntar com sinceridade a que é que chamamos "doping".

Se entendemos como droga tudo o que altera a nossa natureza, temos que incluir a aspirina e o amor.

Quantas vezes dissemos, ao cair da tarde, ou mesmo a qualquer outra hora, que "faz-me falta uma bebida"?

Para combater um abatimento de ânimo ou para bater um recorde, pode ser necessário que entre no nosso corpo algum produto.

As anfetaminas podem suprir o misticismo e este pode ser confundido com o gin tónico e, se dermos um passo mais, com o Martini.

Foi um drogado Balsac, que escreveu a Comédia Humana, graças a tomar 40 cafés por dia?

Ajudou Allan Poe, o álcool, para inventar a novela policial, "O Fantasma da Rua Morgue", com a bebedeira memorável que apanhou?

Na minha vida, já soube de grandes ciclistas, como Gimondi, que venceu a volta à França, duas voltas a Itália e a volta à Espanha, talvez há uns 40 anos.

Já levava droga, mas então chamavam-lhe "bombas".

Os ciclistas deitavam espuma pela boca.

O recorde que se conseguiu agora é o da hipocrisia.

A química influi com a constituição física, mas é cruel ter 5 anos na prisão, um jovem, ao qual lhe deram umas pastilhas para ganhar uma etapa.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

- É menor pecado elogiar um mau livro sem o ler, do que depois de o ter lido. Por isso, agradeço imediatamente depois de receber o volume. Não há vida literária plenamente virtuosa ! (Carlos Drummond de Andrade, foi um poeta brasileiro (1902 - 1987), também cronista, contista e tradutor)

AINDA HÁ BONS CONSELHOS !!!



Reverendo Stan Fortuna, num concerto.


Não me refiro aos conselhos de administração que pululam por tudo o que é sítio, nem aos que costumam dar os párocos aos seus fieis, depois de repreendê-los por não irem à missa, mesmo aos que terão ido.

Falo dos equânimes e sábios conselhos que prodigalizou o Papa, no seu primeiro discurso da Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Sidney.

Como a igreja é ecuménica, o que quer dizer que se estende a toda a orbe, não só são válidos os aborígenes que o foram receber, alguns descalços e mal pintados, como para os demais.

Bento XVI advertiu sobre o "insaciável consumo" que perverte, não só na natureza, como também o ser humano, através do álcool, das drogas, da exultação à violência e da degradação sexual.

Não se sabe se o eminente teólogo e actual pontífice, Ratzinger, também conhecido à escala popular, como o "pastor alemão", alcançará, como muitos dos seus antecessores, a santidade, mas é mais que evidente, que tem mais razões que um santo.

Os bons conselhos, aceitam-se sempre melhor em épocas mais necessitados deles.

Quando tudo caminha bem, pensamos que são desnecessários.

Mais a mais são grátis e não obrigam a nada.

Um provérbio italiano diz, " que o sal e os conselhos só se devem dar a quem os pede".

Sabe-se que são melhor acolhidos quando coincidem com a decisão que cada um havia tomado antes de pedi-los.

Como não agradecê-los, quando vêm duma pessoa mais velha e sábia?

O Papa recomenda austeridade num tempo onde começa a ser obrigatória.

A crise em Portugal, está a asfixiar as pequenas, médias e grandes empresas e o Fundo Monetário, que é tão insondável, como o fundo das nossas consciências, advertiu que seremos um dos países mais afectados.

Talvez sua Santidade devesse termo-nos aconselhado austeridade antes de Deus se ter transformado em Cristo.



domingo, 20 de julho de 2008

- Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la ! (Carlos Drummond de Andrade, foi um poeta brasileiro (1902 - 1987), também cronista, contista e tradutor)

EM ÚLTIMO LUGAR

Já dizia eu que o cardeal Martini me caía bem, por algo mais que a simpatia que me suscita o seu apelido, (Carlo Maria Martini).

Talvez a pomba se tenha equivocado ao não elegê-lo, ou talvez tenha pensado que era altura de aceitar algumas das suas teses, do jesuíta que foi reitor da Universidade gregoriana de Roma e arcebispo de Milão.

O caso é que era um possível papa, mas nunca será papa.


Também influiu nos seus eleitores o facto de que havia proposto, há uns tempos atrás, que " A Igreja deve ter o valor de reformar-se".

O caso é que este elegante cardeal havia elogiado Lutero e defendido a ordenação das mulheres.

Se lhe tivessem feito caso, tinham economizado o alvoroço que actualmente têm os católicos com os anglicanos, que pode provocar uma emocionante cisma na Igreja de Inglaterra.

Parece que a maioria dos componentes do Sínodo é partidária de que as mulheres sejam admitidas no episcopado, mas apesar disso a coisa não acaba de pegar.

Ás pessoas normais, sempre nos estranhou que as mulheres não possam dizer missa, nem absolver dos seus pecados os que levam uma exacta contabilidade deles.

Por que o pároco do bairro pode e Teresa de Calcutá, não?



Historicamente as mulheres sempre superaram os homens, entre muitas outras coisas, na sua capacidade para a indulgência, mas o anti-feminismo eclesiástico é evidente.


Mais evidente inclusive que o monárquico.


O gigantesco avanço na conquista do que sempre foi seu, detém-se ante a aceitação do bispado feminino, que está a afastar os anglicanos dos católicos.


Era o que faltava.


Os tradicionalistas da Igreja de Inglaterra podem fazer que a actualização, que sempre recomendou o cardeal Martini dure um século mais do que a conta.


A eternidade mais do que uma semana.


quarta-feira, 16 de julho de 2008

- O Homem é a única criatura que se recusa a ser o que é ! (Albert Camus, 1913-1960, escritor francês, nascido na Argélia. Camus é, com Sartre, o escritor mais representativo do existencialismo francês)

DESEMPREGADOS




Durante muitas vidas duvidosamente produtivas, como este servidor de vocês ou vocemecês, que vos escreve, não ter nada que fazer é considerado uma bênção.

Mau, é quando não se tem nada que fazer, nem tão-pouco que comer.

É injusto que para nos alimentarmos se necessite só de um par de horas por dia, incluindo as de bendizer os alimentos, que já não se usa e, as das sagradas sobremesas, com café, uma aguardente velha e um charuto, coisa que demora, todavia menos, enquanto que para poder aceder à alimentação se requerem muitas horas de trabalho.

O normal numa sociedade bem equilibrada, seria empregar o mesmo tempo em ganhar a vida e fazer-se por ela, mas entre nós, que não somos nenhuma potencia mundial, cada vez é mais difícil.

O desemprego aumenta, já vai ou ultrapassa os 500.000 ou perto disso, talvez uns três ou quatro mais, se tu e os teus amigos mais íntimos não foram despedidos enquanto liam estas linhas.

Recordo-me de Beltrand Russel, que dizia que só existem duas formas de trabalho.

Uma, altera a forma das coisas à superfície da terra e outra, ordena que isso o façam os outros.

Está suficientemente comprovado que a primeira modalidade cansa mais e também que é a única imprescindível para isso que chamamos progresso.

Como é possível que, num país onde ficam por fazer tantas coisas, haja cerca de 500.000 habitantes que não têm nada que fazer?

Ser um desempregado é uma maneira de antecipar-se a ser um morto.

Os mortos são muito preguiçosos e ninguém pode reprovar o seu absentismo laboral.

O terrível é querer trabalhar e não ter onde, nem como.

É algo tão frustrante como ter vocação de mártir e não encontrar á mão de semear, nenhum verdugo disposto a sacrificá-lo.

Impedem-se muitos destinos, que não vocações!



domingo, 13 de julho de 2008

- Não podendo regularizar os outros, regularizo-me a mim mesmo ! (Michel Eyquem de Montaigne, (1533-1592), escritor e ensaista francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal).

ALTERAR COSTUMES


Como todo o mundo sabe, desde que foi divulgado por aquele observador moralista inglês, que se começa por matar e roubar e acaba-se, não assistindo aos ofícios dominicais.

Isso que chamam usos e costumes, impõem-se em todas as sociedades e tardam tanto a variar como as montanhas em decidir-se pela modificação dos seus perfis, para desconcerto dos topógrafos.

A variação está ao gosto do freguês.

É o melhor subterfúgio dos nossos melhores adúlteros e gosta de fazer-se extensiva a muitos outros aspectos da vida.

Os espanhóis, neste momento estão empenhados em eliminar a gravata e os crucifixos.

A Nova lei da Liberdade Religiosa, parece-me que não irá encontrar demasiados partidários, nem no Corte Inglês nem no Vaticano.

O 37º Congresso Socialista, abordou a desaparição de símbolos e liturgias religiosas nos espaços públicos e nos actos oficiais.

A verdade é que abundam em excesso, lá, como cá, apesar de terem experimentado uma certa diminuição.

Nas escolas de outras épocas, (a minha, por exemplo), tínhamos que rezar o rosário todos os dias e todos ao mesmo tempo, se bem que o primeiro mistério - havia muitos mais - era necessário fazê-lo de joelhos.

Esta sobrecarga penitencial afastou muita gente do acto religioso que é sem dúvida, duma dimensão da alma humana.

Quantos funerais, incluindo os dedicados a desconhecidos, teve de tragar uma pessoa com a minha idade antes de se ver obrigado a assistir pessoalmente ao seu?

Por Espanha, não sei se será oportuno procurar novos conflitos e confrontações neste momento de crise.

Galbraith, (*), atreveu-se a corrigir Aristóteles e disse que a política não é a arte do possível, mas sim a arte de escolher entre o desastroso e o insuportável.

Caso seja mais sensato, em vez de empurrar algumas pessoas para que abandonem certos costumes, aguarde-se que sejam os costumes a abandoná-las.


(*)
John Kenneth Galbraith, (1908, Canadá/ 2006, EUA), foi professor, diplomata e um dos mais respeitados economistas, seguidor das ideias de John Maynard Keynes, (considerado um dos mais importantes economistas de toda a história)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

- A tua tarefa é a de representares correctamente a personagem que te foi confiada. Quanto a escolhê-la, depende de outro ! (Epicteto, (55 d.C./135 d.C.), foi um filósofo grego, pertencente à Escola Estóica, que viveu a maior parte de sua vida como escravo em Roma).

UM CRIME NO MUSEU



Local vazio de onde foi retirada a estátua para restauro


Hitler voltou a perder a cabeça.

Um visitante do Museu Madame Tussaud, decapitou a sua estátua de cera, recém-instalada, tomando pela sua mão a justiça histórica.

A inclusão do artífice do Holocausto nesta galeria de fantasmas célebres já tinha provocado muitas críticas.

Pode-se aceder à fama por distintos caminhos, mas quando se chega a ela, é o mesmo ser-se o Fleming ou Jack "O Estripador": o caso é que todo o mundo tenha ouvido falar da personagem em questão.

Sempre se considerou a guilhotina muito superior à aspirina para suavizar as dores de cabeça.

O verdugo da efígie de Hitler era o segundo visitante do museu, um tipo de 40 anos que logrou iludir os vigilantes.

O homem acreditava que perpetuar a imagem do autor do Mein Kamf e de uns sessenta a setenta milhões de mortos, constituía uma forma de homenagem, mas matar um morto tem escassa utilidade, sobretudo se o defunto é de cera.

Mais a mais, Hitler, já tinha perdido a própria cabeça muitos anos antes, talvez desde que leu Nietzsche e levou a sério aquele livro do conde Gabineau, (*). chamado, "A Desigualdade das Raças".

O seu psiquiatra, que supostamente não se atrevia a chamar-se por esse nome, conta que quando era Füher, perdia dois quilos e pico, ao falar para o público e "alcançava uma satisfação sexual completa".

Um louco faz centos, mas pode fazer milhões.

Entre ele, pessoas do calibre de Heidegger, (**).

Agora, passados mais de sessenta anos que a II Guerra Mundial terminou, o líder nazi converteu-se numa atracção de feira.

A sua estátua estava protegida com grossos cordões de protecção e havia letreiros que proibiam tirar fotografias junto dela, para presumir, não se sabe o quê.

Talvez por ter estado no Museu de Madame Tussaud, (***).


(*)
Conde de Gabineau, considerado o "pai do racismo científico", que afirmava o seguinte: "A raça branca possuía originalmente o monopólio da beleza, da inteligência e do vigor.
Por sua união com outras variedades criaram seres híbridos, débeis, fortes, mas sem inteligência e sobretudo feios."


(**)
Martim Heidegger, filósofo alemão.
Embora a filosofia de Heidegger não fosse o nazismo, há ligações visíveis entre esta filosofia e o movimento geral da ideias e dos acontecimentos que geraram o nazismo.
Porém, após a destruição do Estado Hitleriano, o pensamento de Heidegger conheceu um sucesso prodigioso, mesmo em países que nós poderíamos considerar pouco inclinados a acolhê-lo em virtude das suas origens.


(***)
Museu Madame Tussauds é um famoso museu de figuras de cera.
Possui a maior coleção de figuras de celebridades.
A sede principal do museu está em Londres, mas também existem 7 filiais em, Paris, Nova York, Hong Kong, Las Vegas, Amsterdam, Hollywood e Berlim (aberto em 4 de Julho de 2008).
Marie Tussaud (1761-1850), nascida Marie Grosholtz em Estrasburgo, França, trabalhou como governanta para o Doutor Philippe Curtius, um médico com talento para a modelação da cera, que ensinou essa arte a Tussaud.



domingo, 6 de julho de 2008

- Quando puder ser temido, ainda mais me quero fazer amar ! (Michel Eyquem de Montaigne, (1533-1592), escritor e ensaísta francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal)

POLÍTICAS ...



Espantava-se Kant, no final da sua ordenadíssima vida, somente de duas coisas: da noite estrelada e do persistente eco da voz da sua consciência.

Dos abismos. Um exterior e outro de portas para dentro.

Qualquer um sabe o que é "a coisa em si" e o que é o mundo como relação, mas mais difícil, todavia, é saber por que os políticos têm que fazer declarações inéditas e por que ainda há gente que continua viva em Gaza?

Como é possível que haja portugueses que continuam a responder a pesquisas e que haja palestinianos que não tenham sido alcançados pelas bombas?

Quando se pisa um formigueiro sempre ficam formigas vivas e quando se aborrece as gentes com os discursos, sempre se encontra alguém que não adormece.

A política é uma parte importantíssima da vida.

Entre nós, esteve proscrita durante larguíssimo período, mas agora temo-la apanhado com ganas e voltou-se a um tema monográfico.

Todos nos julgamos muito, mas quem se dedica profissionalmente a ela, julga-se muito mais.

Caminhamos para um momento em que os que arbitram a conveniência sejam mais numerosos que os que convivem.

Quantos postos dependem do resultado das eleições?

Há pessoas que se pode acabar com o que se lhes dava e outras que podem fazer um buraco na sua mesa, se bem sentados, mas longe da presidência.

Não faz falta que os comensais estejam de acordo com o menu escolhido: cerca de um terço dos portugueses pensa que nenhum dos grandes partidos está a proceder bem, mas trata de participar no banquete, ainda que na qualidade de garçons.

Estão a ficar muito monótonos os nossos temas de conversação e há que pedir outro café, outro copo e outro charuto, ainda que se tenha de fumá-lo na rua.


quarta-feira, 2 de julho de 2008

- Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro ! (Albert Camus, 1913-1960, escritor francês, nascido na Argélia. Camus é, com Sartre, o escritor mais representativo do existencialismo francês).

ALI BABÁ e os 40 LADRÕES




Se os saqueadores do património nacional se tivessem reduzido a essa moderada cifra, seriamos o país mais rico do mundo.

Ali Babá criou escola e tem infinitos seguidores.

Alojam-se em escritórios e não em cavernas e sentam-se em cadeirões "esfregados e polidos pela saliva aduladora".

Não há dia que não se descubra um novo ninho de ladrões, mas temos que reconhecer que há dias mais espectaculares que outros.

A polícia, volta e meia desarticula, à beira-mar, aquelas tentaculares teias ou tramas de corrupção, cujo Artº. 1ª, de inexcusável cumprimento, é levar todo e tudo o que não é seu.

Também terra dentro se dá prodigamente a malversão ou desvios, o suborno, o branqueamento de dinheiro e o tráfico de influências, mas nos litorais pode-se afirmar, sem temermos o exagero, que por cada voraz gaivota, há um presidente ou um vereador muito mais insaciável que ela, que além disso também é um ser palmípede.

O problema de Portugal é que já não terçará armas com ninguém, nos quartos de final, nas meias finais e na final, ficando isento de se cruzar com as inumeráveis vagabundas, que se aproximavam dos quartos.

A moral e o brilhar continuam a ser os nossos principais problemas a solucionar.

Ou seja, as mesmas coisas que Simon Bolívar reclamava para o seu sonâmbulo império.

Não será Portugal, bem lá no fundo um país iberolatinoamericano?

Há coisas que custam muito admitir como contemporâneas.

A natureza humana quiçá permanece invariável, mas não os sistemas de controlo.

A ciência política não garante a decência, mas faz os possíveis para que os desavergonhados sejam detectados a tempo e excluídos da administração, antes que rebentem inchados de tanto roubar.

Mas não é isso que sucede.

Incham, mas vão passando despercebidos, sem rebentar e sem ninguém os detectar.

Depois vão dar ao mesmo.

A palavra restituição foi eliminada.

Só necessitam de ter paciência e depois de uma temporada mais recatados, ou até mesmo á sombra, voltam para o ALLGARVE ou para a COSTA do SOL, Espanhola, para desfrutar do roubado.

Nunca partem para a Suíça ou para a Bélgica, porque as leis lá são mais apertadas!

E eles querem viver á larga!