domingo, 31 de agosto de 2008

OS PÓDIOS SÃO PEQUENOS

.É injusto que só caibam três na tarima ou cadafalso dos êxitos desportivos.

Os acomodadores, (arrumadores, do tipo dos que existem nos cinemas, os "lanterninhas"), da glória olímpica, deveriam colocar alguns mais em sítios proeminentes, já que o pedestal não é assim tão caro.

Houve um tempo em que não abundava gente dedicada a cultivar a sua capacidade física, já que geralmente se encontravam a cultivar os campos.

Nessas épocas era lógico que o pódio albergava só os três mais destacados, mas agora há milhentos atletas, quase todos "bonzíssimos" e continua-se com os mesmos três lugares.

É certo que passado o tempo, só recordamos os "mais grandes" entre os maiores, mas não podemos esquecer que a estátua do vencedor, está fabricada com os fragmentos dos derrotados.

A vitória, toda a vitória, exige que haja algum ou alguns vencidos.

Para paliar ou atenuar esta inelidível e inelutável exigência, inventou-se o "slogam", tão consolador como falso, de que "o importante é participar".


Atribuem-no ao barão de Cubertin, mas parece-me que o plagiou ao arcebispo de Filadélfia.

Se mo permitem e mo desculpam, prometo que não servirá de precedente, que me expresse sem nenhuma reserva ou recato, direi: - puta que pariu os dois!

Ou melhor, uma de igual calibre, para cada um deles.

Para o barão e para o arcebispo.

Se o importante é participar é porque constitui os requisitos imprescindíveis para poder ganhar, que é o que é verdadeiramente importante.

Os louros serenos da vitória só adornam algumas testas.

As demais chocam com a realidade e ficam com um "galo".

É o êxito que se procura, por mais voltas que dêem na pista.

Que trabalho custaria alargar o pódio para que mais, pudessem subir?

Kipling (*) dizia que tanto o êxito como o fracasso devem ser observados como dois impostores.

Mas talvez seja preferível ser assim, com um pouco de desprezo, ao primeiro.

Ganhando se aprende.



(*)

Joseph Rudyard Kipling, (1865–1936), poeta britânico, nascido na Índia, foi um escritor de histórias, poemas, esboços e obras históricas.

Aqui fica o seu poema :

SE

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!

.

2 comentários:

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

há traduções pavorosas do "If" de Kipling, essa que colocoou não está má, sim, senhor!
hã tempos coloquei o poema no meu blogue e nenhuma me satisfazia, tive que juntar várias, juntando-lhe alterações minhas, ficou uma
Miscelânea...

a nossa geração viveu o poema como um lema! Será por essa razão que não entendemos essa forma de estar na vida...tem razão, José Torres.

xistosa, josé torres disse...

JúliaML

A tradução não é minha.
O meu inglês há muito que se esboroou.
Mas esta tradução tinha linhas trocadas, no poema.
Como gosto dele, aproveitei "levar" o texto.
Mas vou deixar, (mais tarede ou mais cedoe), este blog.
O trabalho que me dá ... não me deixa o prazer e o tempo para me dedicar à "minha escrita".
Obrigada pelas palavras.