domingo, 17 de agosto de 2008

OCIDENTE - ORIENTE


Equivocou-se o grande Kipling (*), quando disse que o Oriente e o Ocidente não se encontrariam nunca.

O desporto fê-lo possível, que coincidiu com Pequim, neste ano de 2008.

As televisões encarregaram-se para que a cerimónia inaugural dos Vigésimos Nonos Jogos Olímpicos, fosse um acto planetário.

Participaram neles muitos ocidentais, cada um de sua pater e mater pátria e, quanto a chineses, estavam todos.

Cumpriu-se a mais nobre missão do desporto: converter-se num idioma em que se possam entender todas as raças e todos os povos.

Superaram-se muitas tensões e saíram para reluzir os direitos humanos, o Tibete e o senhor Bush, que continua sem encontrar-se com ele próprio, mas tudo se tem deixado andar.

O que mais gostei na faustosa inauguração foi a pequenita vestida de vermelho.

Recordei-me de uma sátira humorística e metafórica, (gregueria), na qual Ramón Gómez de la Serna (**), nos revelava as dúvidas das mães chinesas, que nunca sabiam se tinham tido um miúdo ou uma boneca.

Recordei-me igualmente, do duro destino histórico do sexo feminino neste país e em todos, mas especialmente neste.

A pequenita de traje vermelho era uma preciosidade, mas a inocência entende-se sempre.

Com muito mais facilidade que Confúcio.



Cada cena, admiravelmente sincronizada, tinha um significado, mas chega um momento, em se nos escapam alguns simbolismos e não se sabe se estavam a aludir à pólvora ou à bússula.

Os chineses da antiguidade inventaram tudo, menos o "flan" "El Mandarin".

Agora estão em transe para substituir o arroz, sem deixar esquecê-lo, pelo "entrecot".

Como mudar o Livro Vermelho de Mao, pelo livro de receitas de Maria de Lurdes Modesto?

A China despertou e o primeiro que quer fazer é tomar o pequeno almoço.

Oxalá que o terrorismo, que também está muito bem organizado, não perturbe, nem os jogos, nem os sonhos do gigante.



(*)
Joseph Rudyard Kipling (1865–1936) foi um autor e poeta inglês, nascido na Índia britânica.
Escreveu novelas e contos curtos para crianças, que se tornaram clássicos, tendo sido um dos escritores de prosa e poemas mais populares, em Inglaterra, no final do séc. XIX e princípios do séc. XX.
Ainda hoje é controverso o seu lugar na história da escrita, dado ser considerado um "imperialista preconceituoso e militarista".
Aqui fica um poema de Kipling:

Se

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruires tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!

(**)

RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA, (1888 - 1963) foi escritor, dramaturgo e um revolucionário vanguardista espanhol, muito conhecido pelas suas greguerias, ( termo espanhol. as greguerías são textos curtos ou aforisms, normalmente uma única frase, expressando, de forma aguda e original, pensamentos filosóficos, bem-humorados, pragmáticos líricos e assim por diante).

1 comentário:

mac disse...

Encontro de culturas? Hummm...acho que não. Afinal ainda no outro dia, o vice-presidente da China disse que não admitia qualquer discussão sobre o Tibete, e que toda a gente sabia que o Tibete era deles. Num país ocidental, estas declarações seriam bombásticas...