domingo, 31 de agosto de 2008

- A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável !
(Jean Maurice Eugène Cocteau, 1889 - 1963, foi um cineasta, actor, encenador e autor de teatro francês).

OS PÓDIOS SÃO PEQUENOS

.É injusto que só caibam três na tarima ou cadafalso dos êxitos desportivos.

Os acomodadores, (arrumadores, do tipo dos que existem nos cinemas, os "lanterninhas"), da glória olímpica, deveriam colocar alguns mais em sítios proeminentes, já que o pedestal não é assim tão caro.

Houve um tempo em que não abundava gente dedicada a cultivar a sua capacidade física, já que geralmente se encontravam a cultivar os campos.

Nessas épocas era lógico que o pódio albergava só os três mais destacados, mas agora há milhentos atletas, quase todos "bonzíssimos" e continua-se com os mesmos três lugares.

É certo que passado o tempo, só recordamos os "mais grandes" entre os maiores, mas não podemos esquecer que a estátua do vencedor, está fabricada com os fragmentos dos derrotados.

A vitória, toda a vitória, exige que haja algum ou alguns vencidos.

Para paliar ou atenuar esta inelidível e inelutável exigência, inventou-se o "slogam", tão consolador como falso, de que "o importante é participar".


Atribuem-no ao barão de Cubertin, mas parece-me que o plagiou ao arcebispo de Filadélfia.

Se mo permitem e mo desculpam, prometo que não servirá de precedente, que me expresse sem nenhuma reserva ou recato, direi: - puta que pariu os dois!

Ou melhor, uma de igual calibre, para cada um deles.

Para o barão e para o arcebispo.

Se o importante é participar é porque constitui os requisitos imprescindíveis para poder ganhar, que é o que é verdadeiramente importante.

Os louros serenos da vitória só adornam algumas testas.

As demais chocam com a realidade e ficam com um "galo".

É o êxito que se procura, por mais voltas que dêem na pista.

Que trabalho custaria alargar o pódio para que mais, pudessem subir?

Kipling (*) dizia que tanto o êxito como o fracasso devem ser observados como dois impostores.

Mas talvez seja preferível ser assim, com um pouco de desprezo, ao primeiro.

Ganhando se aprende.



(*)

Joseph Rudyard Kipling, (1865–1936), poeta britânico, nascido na Índia, foi um escritor de histórias, poemas, esboços e obras históricas.

Aqui fica o seu poema :

SE

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais --tu serás um homem, ó meu filho!

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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

- Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção ! (Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe (1900-1944), foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial, onde morreu aos comandos dum avião. O seu corpo nunca foi encontrado. Escreveu para jornais e revistas. A sua obra prima, escreveu-a quando estava exilado nos EUA, Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe ou O Principezinho) - 1943. Tem outros diversos livros, muitos só editados depois da sua morte, como, por exemplo, "Lettres à sa mère" - 1955)

OUTRAS OLIMPÍADAS

.A "incompetência" entre os portugueses que lutam por alcançar os recordes de dívidas pessoais é duríssima.

São milhares e milhares que se inscreveram involuntariamente nessa Olimpíada.

Dizia Oscar Wilde, que viveu e morreu acima das suas possibilidades - bebendo champanhe do país de origem - que o dinheiro só é necessário, a quem pensa pagar as suas dívidas.

Não será exactamente assim.

Também o necessita quem o emprestou.

A inequívoca crise portuguesa, fez aumentar os calotes, palavra que alguns ainda acreditam que deriva de tratar pequenos calos ou calosidades.

Os bancos, ao longo dos tempos, sempre foram de pedra, mas a derrocada imobiliária está a doer-lhes.

Enquanto que, ás caixas, que não querem ser de Pandora, preocupa-lhes as taxas de créditos duvidosos, ainda que menos que a taxa de crédito, em que não existe a menor dúvida, acerca de que não poderão ser devolvidos.


Os mais pessimistas, como sempre e logicamente a oposição, vêem graves riscos para o sector, mas os mais optimistas, cuja ordem de alternância, actualmente corresponde ao PS, asseguram que os actuais níveis de "calotes" se mantêm dentro de níveis razoáveis, exceptuando o grupo de vítimas que perderam a razão por culpa das suas dívidas.

Dever dinheiro é muito mais perigoso para a nossa saúde e para os que estão ao nosso redor, que fumar.

Conduz à insónia e sabe-se que é fatal para o miocárdio, que chega a um momento que já nem nosso é.

Parece-me que o único que não se preocupa em excesso pela "morosidade" é, Manuel Pinho, ou será Campos e Cunha?

No mealheiro dos trapaceiros mais avantajados figuram muitos construtores.

Alguns com uma cara mais tesa ou dura que o cimento.




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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

- As línguas têm sempre veneno para verter ! (Jean-Baptiste Poquelin, com o nome artístico, MOLIÈRE (1622 - 1673), actor e dramaturgo francês e um dos maiores escritores de comédia.
Criou personagens famosas, como, ARGAN, o hipocondríaco, TARTUFO, o hipócrita, HARPAGON, o avarento e ALCESTE, o misantropo é autor de, L'Ecole des Femmes (1622), Tartufo (1664), Le Misantropo (1666) e Le Bourgeois Gentilhomme (1670), etc.)

A MIUDAGEM ACTUAL

Todos respondemos a essa denominação da nossa vida, precisamente naquela em que não sabíamos nada da vida.

O que seria da vida sem a desobediência?, perguntou Jean Cocteau (*).

Aos da minha geração custou-lhes manter esse culto, pouco depois dos bombardeios, racionamentos e aclamações, ficava pouco espaço para adorar a nossa senhora da Real Gana.

Recordo que a minha vocação mais decidida foi a de convalescente.

Por desgraça, não a pude cumprir, já que nunca estive doente.

Uma frustração mais.

Ter-me-ia gostado mais, não estar, senão ser convalescente durante todo o meu ciclo vital.

Nesse estado os que te rodeavam estavam obrigados à indulgência, a preocuparem-se contigo e a cercarem-te não só de cuidados, como de diminutivos, falam de "sopitas" ou "sopinhas" e ouves dizer de ti que estás melhorzito.

Inesquecível tifo do pós-guerra.

Nunca me senti, nem mais ameaçado, nem mais amado.

Recordo-me de ouvir os mais velhos daquela deplorável época dizerem que competiam a ver quem matava mais e melhor, porque as crianças de agora têm outras aspirações.



O Instituto de Apoio à Criança, parece-me que perguntou a muitos, recentemente, (entre os 4 e os 17 anos, o que queriam ser, quando fossem grandes).

Levo mais de sessenta anos excluído para participar em inquéritos similares, mas se me perguntassem a mim o que quero ser, a minha resposta está clara, quero ser criança.

Não piloto de corridas, nem ajudante de xerife, nem colaborador do Doc Savage (**), nem companheiro de aventuras de Flash Gordon, nem sequer futebolista da primeira divisão, senão criança.

Com a condição, claro, de não ser órfão.

Agora, parece-me, que as crianças querem ser outra coisa quando chegue o ameaçador dia de amanhã.

Engenheiros electrónicos ou vereadores de urbanismo.

Cada época tem o seu afã.


(*)
Jean Maurice Eugène Cocteau ( 1889 - 1963) foi um cineasta, actor, encenador e autor de teatro francês.

(**)
Doc Savage foi uma personagem fictícia e fabulosa, criada pelo biógrafo, Lester Dent.
Um dos heróis entre 1930 e 1940, também apelidado de Homem de Bronze.



domingo, 24 de agosto de 2008

- O homem que é pessimista antes dos 50 anos, sabe demasiado; o que é optimista depois, não sabe o bastante ! (Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido por seu pseudónimo, MARK TWAIN, 1835/1910, foi um famoso escritor, humorista e romancista dos EUA. Foi ainda aprendiz de tipógrafo, piloto no Mississípi, garimpeiro na corrida ao ouro, jornalista globe-trotter antes de ser escritor a tempo inteiro).


UM TUBARÃO NA PISCINA

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Para os miúdos das gerações próximas da minha, nada nadará mais e melhor que Johny Weissmüller, mais conhecido por Tarzan.

Somou cinco medalhas de ouro e uma de bronze, nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, (Olimpíadas de Paris e depois Amesterdão) e converteu-se num herói dos Estados Unidos, apesar de ter nascido no desbaratado Império Austro-Húngaro.

Não só corria atrás de medalhas como diante dos crocodilos.

Morreu em 1984, completamente louco, dando gritos selváticos, num desses sanatórios psiquiátricos, onde nunca ninguém se conseguiu curar de nada.

Penso neste ídolo da minha infância, (havia tão poucos), porque agora, com sorte, chegará o penúltimo dos 200 metros livres e o último dos 4x100 metros.

Michael Phelps é inumano.

Antes de homologar-lhe as suas marcas, deveriam convocar um conclave de dentistas que garantissem que não se trata de um tubarão disfarçado.

Teremos que esperar pelo fim do Jogos, para contar as suas medalhas.

Vai conseguir que esqueçamos Mark Spitz, que era mais simpático e isso é a parte má das Olimpíadas: faz depor ídolos.

Uns são substituídos por outros e passam rapidamente à história, que tem muitas páginas.

Se não se afogar, Michael Phelps está destinado a converter-se no rei das piscinas, uma espécie de Neptuno rectangular de 5 velocidades.

O ser humano sempre procurou os seus limites.

Tem a curiosidade de querer saber até onde pode ir mais além das suas possibilidades.

Suspeita que foi desenhado com uma certa precipitação, ainda que lhe tenham feito crer que o seu inventor o fez á sua imagem e semelhança, se bem que com um sortido variadíssimo.

Não sei se a curiosidade em conhecer os nossos limites nos salva, mas ao menos entretém-nos.

De momento encontrámos o super-peixe.



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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

- Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado ! (Albert Camus, 1913-1960, escritor francês, nascido na Argélia. Camus é, com Sartre, o escritor mais representativo do existencialismo francês).

MEDALHAS ... Ouro, Prata, Bronze e Ferro

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Neste Agosto tão augusto e tão lento como todos, só se fala em metais.

De nobres metais redondos, ganhos na Olimpíada ou também dos sinistros ferros construídos para a guerra, que são os Jogos mais antigos da humanidade.

Também há ou já houve uma conversa aprazada mas inexorável, sobre a crise.

Quem é que disse que o dinheiro é "o vil metal"?

Certamente que além de pobre era um tipo invejoso que só falava por ouvir dizer, ou por ouvir falar os outros.

A sua invenção é atribuída ao mesmo demónio - alguém lhe chamou merda do diabo - mas está presente em todas as guerras e em todos os desportos.

Aqui e em Pequim.

Sempre é mais agradável que uma conversação à sobremesa entre Cavaco Silva e José Sócrates, mas há que reconhecer que é preferível falar com Sócrates que com Bush.

Os Estados unidos impõem um cessar fogo na Geórgia e Condoleeza Rice prometeu a Saakasshivili, ajuda económica.



O que torna mais diferente o desporto da guerra é que na primeira actividade existem juízes e árbitros que vigiam o regulamento.

Na guerra são os vencedores que estabelecem as normas.

A Rússia, não só não deixa a Geórgia, como avisa a Polónia com uma "resposta nuclear".

O presidente do EUA que é uma pessoa sumamente desagradável, assegura que não deseja de modo nenhum, outra guerra fria.

No seu poderoso país ninguém concebe a possibilidade de actuar militarmente na Geórgia.

Está tudo dependente das "chapas" que pode conseguir o monstro marinho, Michael Phelps, o tubarão de Baltimore e do Cáucaso que corre longe.

Por sua parte, Bento XVI recordou-nos, desde a sua residência em Castel Gandolfo, como motivo da festividade da Assunção, que a Virgem "vela sempre pelos seus filhos".

De uma maneira muito especial, (quando não é necessária) ou, nos momentos difíceis.



domingo, 17 de agosto de 2008

- Todas as grandes personagens começaram por serem crianças, mas poucas se recordam disso ! (Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe (1900-1944), foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial, onde morreu aos comandos dum avião. O seu corpo nunca foi encontrado. Escreveu para jornais e revistas. A sua obra prima, escreveu-a quando estava exilado nos EUA, Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe ou O Principezinho) - 1943. Tem outros diversos livros, muitos só editados depois da sua morte, como, por exemplo, "Lettres à sa mère" - 1955)

OCIDENTE - ORIENTE


Equivocou-se o grande Kipling (*), quando disse que o Oriente e o Ocidente não se encontrariam nunca.

O desporto fê-lo possível, que coincidiu com Pequim, neste ano de 2008.

As televisões encarregaram-se para que a cerimónia inaugural dos Vigésimos Nonos Jogos Olímpicos, fosse um acto planetário.

Participaram neles muitos ocidentais, cada um de sua pater e mater pátria e, quanto a chineses, estavam todos.

Cumpriu-se a mais nobre missão do desporto: converter-se num idioma em que se possam entender todas as raças e todos os povos.

Superaram-se muitas tensões e saíram para reluzir os direitos humanos, o Tibete e o senhor Bush, que continua sem encontrar-se com ele próprio, mas tudo se tem deixado andar.

O que mais gostei na faustosa inauguração foi a pequenita vestida de vermelho.

Recordei-me de uma sátira humorística e metafórica, (gregueria), na qual Ramón Gómez de la Serna (**), nos revelava as dúvidas das mães chinesas, que nunca sabiam se tinham tido um miúdo ou uma boneca.

Recordei-me igualmente, do duro destino histórico do sexo feminino neste país e em todos, mas especialmente neste.

A pequenita de traje vermelho era uma preciosidade, mas a inocência entende-se sempre.

Com muito mais facilidade que Confúcio.



Cada cena, admiravelmente sincronizada, tinha um significado, mas chega um momento, em se nos escapam alguns simbolismos e não se sabe se estavam a aludir à pólvora ou à bússula.

Os chineses da antiguidade inventaram tudo, menos o "flan" "El Mandarin".

Agora estão em transe para substituir o arroz, sem deixar esquecê-lo, pelo "entrecot".

Como mudar o Livro Vermelho de Mao, pelo livro de receitas de Maria de Lurdes Modesto?

A China despertou e o primeiro que quer fazer é tomar o pequeno almoço.

Oxalá que o terrorismo, que também está muito bem organizado, não perturbe, nem os jogos, nem os sonhos do gigante.



(*)
Joseph Rudyard Kipling (1865–1936) foi um autor e poeta inglês, nascido na Índia britânica.
Escreveu novelas e contos curtos para crianças, que se tornaram clássicos, tendo sido um dos escritores de prosa e poemas mais populares, em Inglaterra, no final do séc. XIX e princípios do séc. XX.
Ainda hoje é controverso o seu lugar na história da escrita, dado ser considerado um "imperialista preconceituoso e militarista".
Aqui fica um poema de Kipling:

Se

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruires tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!

(**)

RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA, (1888 - 1963) foi escritor, dramaturgo e um revolucionário vanguardista espanhol, muito conhecido pelas suas greguerias, ( termo espanhol. as greguerías são textos curtos ou aforisms, normalmente uma única frase, expressando, de forma aguda e original, pensamentos filosóficos, bem-humorados, pragmáticos líricos e assim por diante).

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

- Nada garante que no futuro teremos uma vida melhor e mais feliz que a que vivemos hoje ! (Dalai Lama)

OLIMPISMO FORA DO OLIMPO


Os Jogos Olímpicos projectam-se a cada quatro anos como uma oportunidade excepcional para realçar o valor competitivo do desporto e princípios tão apreciados como a recompensa do esforço pessoal, a satisfação do trabalho em equipa ou a irmandade pacífica entre os povos.

O encontro olímpico converteu-se, seguramente, no espectáculo que melhor representa as potencialidades dum mundo global, naquele que a exaustiva planificação e a busca de rentabilidades materiais, esfumaram o romanesco associado aos Jogos.

Mas nem a sua paulatina profissionalização, nem a imprescindível maquinaria que os sustenta impedem de apreciá-los tal como são, uma festa colectiva que premeia a entrega dos desportistas, o seu talento e a maneira como ele melhor se reflecte no espírito olímpico.

Por isso, todos e cada um dos mais de, 11.000 atletas, que competirão pelo pódio de honra na China, voltarão a ter perante si o desafio nu, de cumprir ou não com as suas expectativas e as da equipa a que pertencem.

Este desafio adquiriu nesta ocasião um significado especial para as dezenas de membros da delegação portuguesa, (a maior de sempre), de quem se espera um nível competitivo de acordo com as expectativas que todos ansiamos e as dos próprios atletas, sabendo-se quão subjectiva pode ser atingir o pódio ou cair do pedestal.


Os recursos humanos e económicos que mobiliza qualquer convocatória olímpica, transbordaram na China, cujas autoridades pretendem apresentar credenciais ante o mundo, como uma grande potencia capaz de organizar um evento desta envergadura e garantir a segurança ante ameaças do terrorismo.

Os meios dispensados auguram uns Jogos brilhantes.

Mas a sua exibição não bastará para fazer calar, nem as críticas contra a vulneração dos direitos humanos no país, que provocou um dos percursos mais acidentados da tocha olímpica, nem o questionável que suscitou a concessão dos Jogos a um Estado regido por um autoritário regime que impede e persegue qualquer dissidência.

As restrições ao trabalho informativo dos jornalistas, o controlo das comunicações e a evidência de que o Governo de Pequim incidiu nalgumas das suas posições mais antidemocráticas, constatam a incapacidade da comunidade internacional para articular uma fórmula de pressão mais efectiva na defesa das liberdades no país, que preserva no tempo, a aspiração dos atletas verem realizados o seu sonho de competir nos Jogos.

O COI e os comités nacionais, como o português, justificaram o silêncio imposto aos desportistas, para que se não pronunciem sobre controvérsias políticas nos limites da própria Carta Olímpica, à expressão desse tipo de opiniões éticas mais elementares.



domingo, 10 de agosto de 2008

- Ó meu amigo, não te limites a aspirar à vida do possível, esgota antes o campo do possível ! (PÍNDARO, 518 a.C - 440 a.C., poeta lírico grego. Aprendeu música e com estes conhecimentos compôs odes. em homenagem aos vencedores de jogos gregos. Considerado como um dos mais importantes artistas gregos, ficou conhecido como o poeta dos jogos.)


A MERDA DE LÂMPADAS

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Não sei de quem partiu a peregrina e luminosa ideia, de taxar as lâmpadas vulgares.

Não sei se algum ministro altruísta, (que nem sei se existe, da Energia), se um secretário de estado, no mesmo estado que o ministro, se até mesmo da funcionária que faz as limpezas nos gabinetes desses cérebros luminosos.

Foi uma boa ideia, ainda que seja anti-goethiana.

"Luz, menos luz" deve ter gritado.

E como milagre, acendeu-se umas daquelas de alto luxo, que nem a mão lhe podemos colocar, mas deve-lhe ter iluminado a careca nua e rapada, (pelo menos interiormente), iluminando-o da ocorrência paranóica de substituir as lâmpadas.

Estas pessoas que só sabem dar ordens, que não compram lâmpadas, quer de baixo ou de alto coturno, digo, consumo, que nada sabem, nem mesmo superficialmente, porque têm todas as mordomias que os portugueses lhes pagam, deviam preocupar-se:

1º - A MÁ QUALIDADE DAS LÂMPADAS, COM UMA DURAÇÃO MÉDIA DE CERCA DE 1/3 DAS OUTRAS, QUANDO A FRAUDULENTA PUBLICIDADE, NOS INDUZ QUE DURAM … DURAM … ATÉ ACABAR, MAS ESTE ACABAR É JÁ DAQUI A POUCO.

2º - O PREÇO EXORBITANTE QUE POSSUEM, PARA TÃO FRACA QUALIDADE.

3º - QUEM CONTROLA OU TESTA A QUALIDADE DAS LÂMPADAS QUE SE ENCONTRAM À VENDA ?

4º - A QUEM RECLAMAR, COMO NO MEU CASO, QUE TRÊS LÃMPADAS, DESSAS, QUE DÃO LUZ ETERNA, AO FIM DUMA SEMANA, JÁ ERAM … LIXO?



Acho excelente o plano de poupança, com a condição de que se aplique, não só nos lares portugueses, nas inumeráveis feiras e romarias de Agosto, bem como, se fiscalizarem os mixordeiros, que fazem, manipulam, importam e outras coisas que tais, essas ou dessas lâmpadas de curta duração, digo, de luz perpétua.

Temos que poupar por solidariedade com quem tem de o fazer de maneira obrigatória.

Diz-se que o ar é para todos, mas há que reconhecer que o ar condicionado é unicamente para uns poucos.

Deve-se reduzir o limite de velocidade dos nossos automóveis pensando que se o fizermos todos, ninguém vai chegar antes e, sobretudo, substituir as tradicionais lâmpadas, que se fundem a cada passo, por outras que sejam mais caras, digo, que durem mais e gastem menos, condições que as assemelham à prometida eternidade.

Trata-se de poupar petróleo, incluídos os barris cujo fornecimento acaba de prometer o impetuoso presidente venezuelano.

Antes que a alguém ocorra a ideia de voltar á "sopa dos pobres", ou ao "prato único", temos que ensaiar o que começa a denominar-se patriotismo energético.

À força enforcam-nos e pode servir o cinto com que nos disseram para apertarmos as calças.

Só numa situação difícil se aguça o engenho.

Que ninguém diga que o Governo demonstrou ter muito poucas luzes na sua previsão da crise.

Por fim reagirá e delegará em todos nós, que a vamos ter menos.

Far-se-á o que se puder, Manuel António Gomes de Almeida de Pinho!



quarta-feira, 6 de agosto de 2008

- Se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana ... Mas o quê ? (Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe (1900-1944), foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial, onde morreu aos comandos dum avião.
O seu corpo nunca foi encontrado.
Escreveu para jornais e revistas.
A sua obra prima, escreveu-a quando estava exilado nos EUA, Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe ou O Principezinho) - 1943.
Tem outros diversos livros, muitos só editados depois da sua morte, como, por exemplo, "Lettres à sa mère" - 1955)

O MOTORISTA DE BIN LADEN

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Na prisão da base de Guantánamo, que deve ser o local mais parecido a uma sucursal do inferno, está a ser julgado, Salim Hamdan, o motorista de Bin Laden.

Querem que diga a direcção para onde, ou onde o levou pela última vez, para terem alguma pista do fantasmagórico líder, mas também o acusam de ter atropelado muita gente e nem sempre na estrada.

O mais provável é que o culpem da subida do preço do petróleo, já que não reparava em gastos e dizia sempre que chegava a uma gasolineira, "ateste, por favor!"

O que se pode esperar da Justiça quando a ilustre dama condescende visitar Guantánamo?

É como se Maria Goreti (*), tivesse decidido hospedar-se numa pensão rasca de estrada.

Bertolt Brecht deixou-nos dito que há muitos juízes incorruptíveis, já que ninguém os pode induzir a fazer justiça.



A Justiça, que é de linhagem divina, pode ser sempre questionada em tempos de paz, mas em tempos de guerra ou de imediato pós-guerra, desaparece.

Simplesmente não existe e portanto não pode ser vulnerável.

Exercem-na os vencedores, que se converteram em juízes e parte da pilhagem.

Agrupam em cárceres os "combatentes inimigos", incluindo os que jamais combateram e os culpam de criminosos de guerra.

Como ia matar alguém, o motorista de Bin Laden, se tinha, todo o tempo as mãos no volante?

Nalguns momentos históricos, necessita-se mais do que noutros, de culpados, enquanto isso, quanto mais comprida melhor.

Nem sempre se consegue uma peça importante, como o líder sérvio, Karadzic, mais conhecido como o "carniceiro de saravejo", que andava fugido há 12 anos e agora foi capturado.

Em muitas ocasiões temos que nos conformar com peças menores: o dentista de Hitler, o cabeleireiro de Petain.

O que é necessário é vingança …



(*)
Maria Goretti (1890-1902) foi uma jovem católica italiana, declarada santa.
Em 1899, a sua família mudou-se para Nettuno, onde viviam no mesmo edifício com a família Serenelli.
Aos doze anos de idade Maria Goretti foi atacada pelo vizinho Alessandro Serenelli (1882-1972).
No dia 5 de Julho de 1902, Alessandro tentou violar Goretti, ameaçando-a com uma faca, mas a menina ajoelhou-se com medo de que Alessandro fosse para o inferno e perante a recusa da menina, Serenelli esfaqueou-a 14 vezes.
Inspirada nas suas mestras Santa Cecília e Santa Inês, aceitou o martírio piedosamente. No dia seguinte, depois de perdoar ao seu assassino, Maria Goretti faleceu.
Alessandro Serenelli foi julgado e condenado a 27 anos de prisão.
Arrependido, tornou-se num membro da ordem Terceira dos Capuchinhos, que lhe deram abrigo.
Em 24 de Junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Maria Goretti, numa cerimónia a que assistiu a sua mãe, Assunta e o seu assassino, Alessandro.


domingo, 3 de agosto de 2008

- O homem é o único animal que se ruboriza. Ou que tem razões para isso ! (Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido por seu pseudónimo, MARK TWAIN, 1835/1910, foi um famoso escritor, humorista e romancista dos EUA. Foi ainda aprendiz de tipógrafo, piloto no Mississípi, garimpeiro na corrida ao ouro, jornalista globe-trotter antes de ser escritor a tempo inteiro).

A VIDA POR UM FIO


Ao Senador dos EUA, Ted Kennedy, aquele que há muitos anos tinha cara de sobrevivente, disseram-lhe os médicos de cabeceira e de outras partes do seu organismo que só lhe resta um ano de vida.

O anjo da guarda da família Kennedy foi acusado de incúria reiterativa.

As Parcas(*) - que são as três iguais, para hoje ou para o dia que elas acordem ou concordem - preferiram o poderoso clã.

Umas vezes, foi Cloto, outras Láquesis e outras Átropos, que era a mais baixa de estatura, mas a que tinha mais má cara, as que visitaram a família Kennedy sem estarem previamente convidadas.

O último que restava sem recebê-las era Ted: a sua única honra era ser o Benjamim ao avesso, ou seja, o que ia perdurando a dinastia.

Abandonou a sua má sorte a Mari Jo (**).

Perdidos no rio ou naquele lago, que não me recordo como se chamava.

Deixou que se afogasse, enquanto que, afogava as suas penas no álcool.

Uma pena.

Agora ao Ted, os médicos prognosticaram-lhe , depois de ter sido operado a um tumor cerebral, que só tem corda para uma ano.

Como deve comportar-se alguém que sabe que só vai viver trezentos e picos dias?




As Parcas ou Moiras com o fio da vida


Aconselhou-nos César Vallejo (***), que guardássemos um dia para quando não o tivéssemos.

Sem dúvida que teria um alto valor e procuraríamos empregá-lo do melhor modo possível.

Evitaríamos ocupá-lo com um chato ou com um idiota bem informado dos problemas urbanísticos que, uma vez solucionados por ele, tornaria a vida mais grata à sua cidade.

Melhor do que saber que só temos um ano de vida é saber que nos falta muito pouco desde que a vida começou.

Ás vezes a morte vem, "tan callando", "tão calada", como no poema de Jorge Manrique (****) e noutras anuncia cortezmente a sua visita.

Ei-la.

Ted Kennedy, pertencente a uma família cujo anjo da guarda era o mais vadio da corte celestial, deve dizer: "perdão por chegar atrasado!"


(*)
Em Roma, as Parcas, (equivalentes às Moiras na mitologia grega), eram três deusas: Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos)que determinavam o destino, tanto dos Deuses, quanto dos seres humanos, (eram três mulheres lúgubres).

(**) Marilyn "Mari Jo" Mason foi uma personagem ficcional.

Ver mais de Mari Jo: http://translate.google.pt/translate?hl=pt-PT&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Mari_Jo_Mason&sa=X&oi=translate&resnum=4&ct=result&prev=/search%3Fq%3D%2522Mari%2BJo%2522%26hl%3Dpt-PT%26client%3Dfirefox-a%26rls%3Dorg.mozilla:pt-PT:official%26hs%3DL6b

(***)
César Vallejo Abraham Mendoza (1892 - 1938), é o grande poeta peruano da hispanidade, talvez o mais contido entre os mais produtivos, sem a excessiva magnificência de Neruda ou sem o radicalismo experimentalista de Huidobro.

(****)
Jorge Manrique, (1440-1479), ignora-se quase toda a sua curta vida, mas deixou diversas canções, entre elas as Coplas, (quadras), à morte de seu pai, em número de 43, tipo "pé quebrado".

COPLAS POR LA MUERTE DE SU PADRE

Recuerde el alma dormida,
avive el seso y despierte
contemplando
cómo se pasa la vida,
cómo se viene la muerte
tan callando,
cuán presto se va el placer,
cómo, después de acordado,
da dolor;
cómo, a nuestro parecer
cualquiera tiempo pasado
fue mejor.

Pues si vemos lo presente
cómo en un punto se es ido
y acabado,
si juzgamos sabiamente,
daremos lo no venido
por pasado.
No se engañe nadie, no,
pensando que ha de durar
lo que espera,
más que duró lo que vio
porque todo ha de pasar
por tal manera.

Nuestras vidas son los ríos
que van a dar en la mar,
que es el morir;
allí van los señoríos
derechos a se acabar
y consumir;
allí los ríos caudales,
allí los otros medianos
y más chicos,
y llegados, son iguales
los que viven por sus manos
y los ricos.