domingo, 1 de junho de 2008

CERTIFICADO de QUALIDADE










John McCain, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, é mais velho que Manuela Moura Guedes, na suposição de que não se trate da mesma pessoa.

Isso todo o mundo o sabe, inclusive os seus votantes e não necessita de divulgação.

O que não é licito é aproveitar-se dos seus íntimos calendários.

Quando Avellaneda, (*), acusou Cervantes de velho, este contesta-o, que nas suas mãos não estava o poder de "deter o tempo".

Se bem se olha, chamar a alguém velho com a intenção de insulto, só está ao alcance de alguns cretinos um pouco mais jovens.

Para defender-se desse tipo de ataques cronológicos, McCain difundiu o seu relatório médico.

Um erro e crasso.

Pode-se ter um bom estado físico, quando se submete a ele, mas já ser totalmente diferente no dia seguinte.

Todos conhecemos "carcaças velhas" que asseguram que estão como nunca.

Querem dizer que estão como sempre, sãos como um pêro, o que é mentira.

Ainda que façam "footing" e adquiram um fato de treino de cores berrantes, numa certa idade, há uma coisa que adquiriram com a certeza idosa: que "aqui" não se vem para sempre.

Ainda que a alguns privilegiados não os afecte essa crise da esperança que a velhice subentende, fazer planos a longa distância demonstra um optimismo só comparável aos que fazem as palavras cruzadas com tinta.

A figura do idoso, ou velho, sempre foi respeitada em todas as civilizações merecedoras deste nome, mas sabendo que esse respeito ia durar pouco tempo.

O caminho para a Casa Branca exige umas grandes condições atléticas e aos veteranos pode-lhes faltar fôlego.

Inclusivamente alguns maduros, sem chegar a podres, chegam exaustos à meta.

Deixaram todas as suas forças na corrida.

McCain tem uma saúde de ferro, mas a fadiga dos metais existe.

Está como um carvalho, mas as árvores também morrem de pé.


(*)
Alonso Fernández de Avellaneda, pseudónimo do autor duma obra apócrifa de D. Quixote, (o segundo volume que ia ser publicado).
Em 1614, Alonso Fernández de Avellaneda publicava por sua conta e ousadia o falso segundo volume de D. Quixote, admitindo já na abertura o plágio, assegurando, entretanto que o seu era "menos fanfarronesco e agressivo que o escrito por Miguel de Cervantes Saavedra na sua primeira parte, e mais humilde que o anterior nas suas novelas, mais satíricas que exemplares, conquanto não pouco engenhosas"


4 comentários:

Angela Ladeiro disse...

Estes seus pensamentos são muito interessantes e eu até posso dizer que concordo com quase tudo!..Mas no dia da criança, tratar da velhice, tem algum sentido que me escapa?

xistosa, josé torres disse...

Não tenho nenhum dia especial.
Nem mesmo o do meu nascimento, porque não me lembro.
Sou alérgico a comemorações, fictícias, falsas, simuladas , hipócritas, artificiosas, imitativas dum "interior" que não existe na maioria dos seres humanos, não passam de enganosos dias de consumo.
Os consumistas é que criaram estes dias, para lembrarem um nada dos outros 364 ...

Angela Ladeiro disse...

O meu pai com os seus 102 anos, antes de falecer, lúcido, dizia o mesmo!!!

xistosa, josé torres disse...

angela ladeiro

Não sou apócrifo.
O que tenho que dizer sai logo, nem chega ao cérebro.
O coração mexe-se imediatamente e a boca transmite-lhe as ordens ...
Sou assim ...
Cá em casa, no dia do pai ... também é o dia da mãe.
A minha mulher faz anos ... não teria direito a um dia para festejar o nascimento?