sábado, 29 de março de 2008

- Do mesmo papel em que lavrou a sentença contra um adúltero, o juiz rasgará um pedaço para nele escrever umas linhas amorosas à mulher de um colega ! (Michel de Montaigne)

CRIMINOSOS, NUNCA MAIS !









Os únicos bancos que não experimentam temor ante futuras crises são os bancos de dados do Reino Unido.

Conseguiram reunir o ADN de quatro milhões e meio de pessoas que tiveram problemas com a justiça, com a finalidade de no dia de amanhã a justiça tenha menos problemas com elas, para as identificar.

Nem Orwell, (*), nem sequer Ray Bradbury, (**), haviam chegado tão longe.

Incluso Kafka terá sido superado pela Scotland Yard, que quer fichar os possíveis delinquentes desde os cinco anos, ou seja, antes que tenham cometido algum delito.

Trata-se de acumular a informação genética dos alunos da primária cuja conduta indique que estão predispostos a delinquir, o que não deixa de ser uma forma de vingança adiantada.

E as ciências forenses adiantam que é uma barbaridade.

Rebatidas as teses de Lombroso, (***), que estava convencido de que certa estrutura craniana predispõe ao seu usuário arremeter contra o seu vizinho da esquerda, a Scotland Yard aspira a identificar os culpados antes que o sejam.

Não deixa de ser um êxito policial sem precedentes deter um criminoso com antecedência, antes que tenha cometido o crime.

"Temos que saber quem vai ser um perigo para a sociedade", explicou um dos senhores que estão persuadidos de que prevenir é melhor que curar.

O estado policial avança mais que o estado enfraquecido, mas é uma consequência dele, entendido como "depositário de forças imanentes e eternas".

Regressa-se à receita de Luís XIV, "o estado sou eu", mas com o protagonista disperso.

Ao fim e ao cabo, o conceito implica uma abstracção, mas não deixa de ser arrepiante que um miúdo de doze anos, mais a mais inglês, ou seja, membro da mais evoluída tribo humana, esteja fichado pela polícia.

Não pelo que fez, mas sim pelo que vai fazer.



(*)
George Orwell, (1903/1950), foi um escritor e jornalista inglês. "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro", (título original Nineteen Eighty-Four), é o título de um romance escrito por ERIC ARTHUR BLAIR sob o pseudónimo de George Orwell e publicado em 8 de Junho de 1948 que retrata o quotidiano numa sociedade totalitária.

(**)
Ray Bradbury, Douglas Ray Bradbury (nascido 22 de agosto de 1920) é um escritor americano, de ascendência sueca, cuja obra literária é de fantasia, terror, ficção científica, mistério.
É mais conhecido por "O marciano Crônicas", e o romance "Fahrenheit 451".
É amplamente considerado como sendo um dos maiores e mais populares escritores americanos de ficção indagativa durante o século XX.

(***)
Cesare Lombroso, 1835/1909, foi um professor universitário e criminologista italiano,

Tornou-se mundialmente famoso pelos seus estudos e teorias no campo da relação entre características físicas e mentais.

sexta-feira, 28 de março de 2008

- As mulheres coram, por ouvirem falar daquilo que não receiam de modo algum fazer ! (Michel de Montaigne)

IGUALADO, PLANO, LISO









Confesso que sempre me inquietei ouvir gritar "igualdade!", a um corcunda, sobretudo, quando não tem corcova.

A igualdade deve ser um ponto de partida, não de chegada.

O que corre mais, que seja porque tem mais pressa ou mais capacidade pulmonar ou mental.

Ou melhor, que tenha uma noção mais aclarada de onde está a linha de meta.

Os "disputados", perdão, despudorados, não, deputados, ainda que eu não saiba de onde partiu a ideia, nem queira saber, falaram há uns tempos, (nem sei se a discussão começou no século passado), sobre quotas.

Não aquelas normas, pouco mais que anormais, debandadas do Parlamento Europeu, para se pescar menos ou deixar de semear tomates, mas algo mais humano.

As listas dos diversos partidos, reconhecerem algum mérito ás mulheres que lhes tratam da roupa, os alimentam, os acarinham, que lhes preparam os discursos que depois até nem conseguem ler, engasgam-se, que os assessoriam em grandes e pequenos nadas, que muitos delas são tratadas abaixo ... não são mais do que isso.

NADA!

Penso que não era necessária qualquer lei.

Era seguir a lei da vida em sociedade e igualdade, porque por decreto, penso ser uma inutilidade, talvez até um fracasso.

Já não basta a diferenciação de vencimentos e havendo mais deputadas que deputados, até aí se poupa. (Não posso defender tal, como parece óbvio!).

Há muito que Simone de Beauvoir, que teria defeitos, como nós e as nossas mulheres, mas não o de ser tonta ou idiota, nem de rodear-se de idiotas, disse que, "não se nasce mulher, nasce-se pessoa".

Entre nós, onde tudo é sempre diferente, todos os partidos fracassaram na lei da igualdade, o que converte em foragidas muitas mulheres.

Talvez até deste fracasso sejam culpadas algumas furibundas feministas, porque, sobretudo, são respeitáveis os homens, que não se conformam em sê-lo, querem ser machistas, muito machistas.

Esperemos por novas fórmulas para futuras eleições.

A chamada "paridade" como coincidência é uma semelhança excessiva e como casualidade é uma explicação insuficiente.

Por umas coisas e outras não temos lidado bem com este assunto fundamental, mas tudo estava pior e bastante, há cinquenta anos.

Não é necessário recuar tanto.

Há trinta e cinco anos, a minha mulher, quando foi comprar um automóvel, com dinheiro, exigiram-lhe a autorização do marido.

Só para tornar mais amena a felicidade compartida, disse-lhe:

- "Não te autorizo".

Não posso escrever aqui, como homem, as coisas que ela me disse.


quinta-feira, 27 de março de 2008

- Dai-me a castidade, mas não ainda ! (Santo Agostinho)

A CRISE DA CRISE



(Todo por la Patria)






Na nossa vivência, sabemos que os trapaceiros também estão previstos.

A muitos vê-se-lhes o penacho e as numerosíssimas entidades bancárias contam com eles para fazer contas.

Podiam emprestar o dinheiro a um preço inferior se não houvesse o cálculo pitagórico dos caloteiros.

Ocorre o mesmo, salvo que em menor escala, nos grandes armazéns, que também podiam vender mais barato as vestimentas se não contassem com os ladrões.

Na realidade, todas as pessoas decentes vêem-se obrigadas a pagar um imposto que não existiria se todas o fossem.

Parece-me que nos últimos anos, os calotes têm aumentado exponencialmente e não restam dúvidas de que vão ter grande futuro.

Não estamos a pisar o risco e não é de todo certo o que disse Oscar Wilde, de que o dinheiro só interessa a quem pensa pagar as suas dívidas.

O interesse, em igual medida é a quem pensa em cobrá-las.

Ambas as coisas estão difíceis.

Nuns casos, porque abundam os desafogados e noutros porque crescem os que estão com a corda na garganta.

O FMI e a OCDE, não tiveram outro remédio que reconhecer que a crise tem maior tamanho do que aparente, vista de longe.

As bolsas europeias experimentaram grandes caídas, mas o que é pior é que lhes custa muito mais levantarem-se.

O mal é geral e nem a nossa vizinha Espanha escapa à crise.

Para se ter uma ideia mais exacta da crise vizinha, é que a Izquierda Unida, IU, pode ver-se obrigada a vender a sua sede em Madrid e formam-se filas para os jovens se alistarem nas forças armadas.

O povo pode ser desalojado da "Casa do Povo", por um lado, mas por outro lado, nos quartéis podem colocar cartazes, ao lado dos que dizem, "Tudo Pela Pátria", outros que digam, "Completo".

Em Portugal passeia-se e assobia-se pelos corredores da morte, dum qualquer centro comercial.

Que ninguém pergunte o que se há-de fazer: aguentar e retornar à realidade, que é uma senhora muito desagradável, mas respeitável.


quarta-feira, 26 de março de 2008


- Faço dizer aos outros aquilo que não posso dizer tão bem, quer por debilidade da minha linguagem, quer por fraqueza dos meus sentidos !
(Michel de Montaigne, escritor e ensaista francês)

A FELICIDADE DO GUIA MICHELIN









O refrescar ecuménico, que dizem que é "a faísca da vida" parece que andou a indagar ou então inventei isto, sobre os níveis de satisfação dos portugueses.

Segundo as suas árduas pesquisas, os mais felizes, situam-se na capital e arredores.

Parece-me que descobriram também, que quem está mais contente, são as pessoas jovens que desfrutam da companhia de outra pessoa jovem, que têm um emprego e que não passam por apuros económicos.

Sem dúvida têm mais probabilidades de sentir-se bem que os que vivem no interior profundo, sobretudo se estão sós, sem trabalho e que passam necessidades económicas e, para cúmulo, não se encontra muito bem de saúde.

Temos que nos congratular perante o facto de que, ainda não tenhamos descoberto a receita da felicidade, só descobrimos o galho para medi-la.

Algo é algo e pelo menos temos o retrato robot do cidadão feliz, que nos tinha sido descrito, como o que não tinha camisa, ou melhor, que tinha uma camisa de forças e como estava louco, não se apercebia como corriam as coisas.

Bertrand Russel, que entre os meus filósofos, tem direito a um altar, dizia que há duas classes de felicidade.

A natural e a imaginativa.

Dava o exemplo dum homem que tinha como profissão, abrir poços, alto e musculoso, totalmente analfabeto, que quando votou pela primeira vez numas eleições para deputados, se apercebeu que havia um Parlamento.

Uma vez, José Saramago, disse-o, que eu bem o ouvi, que para ele a felicidade, entre outras coisas, consistia numa casa grande, em Fuenteventura, e uns sapatos velhos.

Foi há cerca de 5 anos quando visitei a vulcânica ilha.

Já, Antonio Machado, (poeta espanhol), acreditava que o segredo estava em ser dono de uma boa saúde e de uma cabeça vazia.

Pouco a pouco, vamos aprofundando a difícil questão e já sabemos que não depende unicamente da fisiologia, mas sim da geografia.



terça-feira, 25 de março de 2008

- Se o vosso médico não acha bom que durmais, que bebeis vinho ou comeis carne, não vos preocupeis: encontrar-vos-ei outro que não será da opinião dele ! (Michel de Montaigne, escritor e ensaísta francês)

LOUCOS ???

"Locos Patines", Goya








Não se fiem nas nossas estatísticas desmoralizadoras: são-no todas!

Regra geral descobrem, à larga ou com fartura, que os índices de mortalidade nos diversos países, incluindo os mais sãos, coincidem com os nascimentos.

Por isso se diz que a estatística é uma dama complacente que não nega nada do que se lhe peça com amabilidade.

Agora se nos dizem, completamente a sério, que de cada cinco portugueses, um apresenta risco de possuir um qualquer transtorno mental; mas não é possível que haja mais transtornos mentais que mentes.

Já o poeta espanhol, Antonio Machado, dizia, segundo os seus optimistas cálculos, que de cada dez cabeças espanholas, nove investem e uma pensa e, não é lógico que existam tantas turbulências com o segundo solitário.

Como não sei de onde chegam os números e desconfio de todos os inquéritos e pesquisas, mas será que incluíram todas as variantes de afectados, como a numerosíssima, de loucos.

Já um crítico de arte se deu conta, depois de assistir a dezenas de exposições ao ano, de que "em Portugal não cabe mais nenhum "babaca", mas em rigor, não são coisas comparáveis.

A loucura, ou uma certa forma dela, pode provir dum excesso de introspecção.

Há coisas que se se consideram a fundo, são para virar-se pírulas, mas não se deve confundir com a alienação.

Há muitos loucos amadores.

Está comprovado que desde que se começou a dizer que todos os génios estão algo loucos, não há ninguém que tenha um cabo solto, que não se acredite que seja genial.

terça-feira, 18 de março de 2008

- Nenhum grande homem vive em vão.
A história do mundo não é mais que a biografia dos grandes homens ! (xistosa)

PERGUNTAS SEM RESPOSTA






Desde que Barack Obama ganhou folgadamente as primárias no Mississipi, a cor política dor votantes começou a identificar-se com a cor da sua epiderme.

A coligação multirracial impõe-se, por pontos, à ideológica e surge uma pergunta mal formulada:

"Se Obama fosse branco, teria chegado onde está?"

Por que ninguém pergunta a Hillary, que se não fosse loira, além de ser esposa de Clinton, teria alcançado o posto que ocupa.

Há perguntas que têm explícita a resposta.

Se é costume perguntar aos milionários, nos casos raros em que concedem entrevistas, se o dinheiro faz a felicidade, por que não se pergunta aos pobres, que são mais acessíveis, se acreditam que a miséria proporciona felicidade?

O machismo e o racismo estão a sujar a campanha, que agora é a única que nos resta, já que a espanhola ainda está fresca e as nossas, ainda estão longe.

Ante a ameaça da sua vitória, crescem as ameaças sobre a vida de Obama.

Será prematuro que haja um negro na casa Branca ?

Temos que ter em conta que Obama, como negro, deixa muito a desejar.

Não só seria dificilmente aceite para desempenhar o papel de Baltasar, na Cavalgada dos Reis Magos, como também seria repudiado como campeão da Nigéria numa noitada no Madison Square Garden.

A verdade é que nos EUA estão a treinar-se os "magnicídios", desde Lincoln a Kennedy e aumentaram os serviços de segurança em torno do candidato de cor, ainda que não se saiba o colorido final que as eleições tomarão.

Seria muito descarado eliminar o homem de pele mais ou menos indecisa.

A população sinceramente negra, levá-lo-ia muito a mal.

segunda-feira, 17 de março de 2008

- A moderação é o fio de seda que enfeita o colar de pérolas de todas as virtudes !
(Fuller, médico e pensador inglês, 1654-1734)

AMIGOS das ENTRIGAS ou das TRICAS ! ! !

Mar encapelado, para algumas bandas ...


Afinal já existiam resquícios do azul.


Uma ilusão é sempre possível de sonhar!


Não há uma certeza absoluta do tema olímpico, plagiado pelo Barão de Cubertin ao arcebispo de Filadélfia, que assegura rotundamente que "o importante é participar".

O que sucede é que se não se participa, não há forma nenhuma de ganhar, que é o que de verdade importa.

Ignoro, enquanto escrevo isto, se os professores já fizeram as pazes, os funcionários públicos, idem, os fomentadores de novos partidos já juntaram os cacos e conseguiram colocá-lo(s) inteiro(s), (ou colá-los!), se o comandante da oposição já contratou os pintores … para lhe pintarem o tecto de azul e diversos outros assuntos que, para quem os assume, só com vitórias poderá sobreerguer-se.

É nestas alturas que penso num "parente" afastado, Manolo Machado, (*), quando dizia, "cheio estou de suspeitas de verdade".

Do que oiço e sei, tenho uma pista do número de compatriotas que gostam de opinar sobre os imediatos destinos da pátria.

Deixo bem claro que a abstenção me parece uma postura legítima.

Ás vezes requer reflexões tão profundas que obrigam a fazer submarinismo nos quartos de banho públicos.

Porquê, ter a maçada de eleger, opinar ou tomar uma opção, entre coisas que nos desagradam?

Que uma delas nos pareça a menos má, não é argumento suficiente para escolhê-la.

Espero que este problema moral afecte só a oposição ou melhor ainda só a minoria.

O normal será que, os que não opinam ou votam, é porque foram traídos sem cuidados.

Abstêm-se, não só os cépticos, mas os metediços espertos e voluntários.

Fraqueja periodicamente o direito, que não a obrigação, quando vamos emitir o voto, o que não deixa de ser assombroso é que cresçam as vocações políticas.

Há-de chegar um momento em que haverá mais chefes que índios.

Proliferam os que se sentem com capacidade para organizar a convivência enquanto escasseiam os que só aspiram a que os deixem viver em paz.

A política é uma profissão dura, se se exerce com honestidade, mal paga.

As invejas entre correligionários, desprezam quem tendo mais valia, tem menos tempo para dedicá-lo à intriga.

Vem um vento diferente e leva para outro lugar pessoas que deixaram ali os melhores e mais protegidos anos das suas vidas.

Alguns são só enxovalhados pelos redemoinhos e rebaixados ao nível dos joelhos dos seus chefes.

Outros têm que voltar ás suas antigas profissões.

Inclusive ás que não tinham anteriormente


(*)
Manuel Machado, (Sevilha,1874 / Madrid,1947), poeta espanhol, irmão doutro poeta, Antonio Machado.

Aqui fica o poema completo:

ARS MORIENDI

I


Morir es... Una flor hay, en el sueño
que, al despertar, no está ya en nuestras manos-,

de aromas y colores imposibles...

Y un día sin aurora la cortamos.

II

Dichoso es el que olvida

el porqué del viaje

y, en la estrella, en la flor, en el celaje,

deja su alma prendida.


III


Y yo había dicho: «¡Vive!»

Es decir: ama y besa,

escucha, mira, toca,
embriágate y sueña...
Y ahora suspiro: «¡Muérete!»

Es decir: calla, ciega,

abstente, para, olvida,

resígnate... y espera.


IV


Era un agua que se secó,
un aroma que se esfumó,
una lumbre que se apagó...
Y ya es sólo la aridez,
la insipidez,
la hez...

V

La Vida se aparece como un sueño

en nuestra infancia ... Luego despertamos

a verla, y caminamos

el encanto buscándole risueño

que primero soñamos;
... y, como no lo hallamos,
buscándolo seguimos,
hasta que para siempre nos dormimos.

VI

¡Y Ella viene siempre! Desde que nacemos,
su paso, lejano o próximo, huella
el mismo sendero por donde corremos
hasta dar con Ella.

VII

Lleno estoy de sospechas de verdade
que no me sirven ya para la vida,
pero que me preparan dulcemente
a bien morir ...


VIII

Mi pensaminto, como un sol ardiente,
ha cegado mi espíritu y secado

mi corazón ...

IX

El cuerpo joven, pero el alma helada,
sé que voy a morir, porque no amo
ya nada.


domingo, 16 de março de 2008

- O maior passo para o bem é não fazer o mal ! (Jean-Jacques Rousseau, escritor francês, 1712-1778)


VERDADE, ONDE ESTÁS ?







Sempre são melhores os detectives das novelas policiais que os de verdade.

Não é que estes careçam de perspicácia, senão que os assassinos os superam nesta qualidade, imprescindível para ambos os ofícios.

Muitos crimes ficaram por resolver, especialmente os que não se consideram como tal e se qualificaram de azarados acidentes.

Por outro lado, nem a Kennedy, nem a Jack "o estripador", não se lhes pode designar nenhuma pessoa que estabelecesse o final das suas vidas.

É uma lástima, porque teriam passado à história.

Como no "Cancioneiro Anónimo", os autores mais meritórios, são desconhecidos.

O último enigma e o que dura há mais tempo nas revistas do coração e de outras zonas mais baixas é o caso de Lady Di.

A princesa era uma espiga de ouro, ainda que quiçá inexpressiva.

Para favorecer a sua lenda, aceitou sentir-se infeliz e para cúmulo morreu, deixando mais ou menos duradouro para a posteridade um mistério debaixo dum túnel.

Mahamed Al Fayed, está convencido que a princesa de Gales e o seu prometido morreram por causa duma conspiração e periodicamente reitera a sua tese.

Todos sabemos que os falecimentos não se deveram a causas naturais, mas quase ninguém sabe que muitos acidentes se devem ao mesmo.

Nunca saberemos se houve conjuração para impedir o matrimónio de Diana e Dodi, que naqueles tempos garantiam amor eterno.

Os serviços secretos britânicos guardaram tão escrupulosamente o segredo que nem sequer eles o sabem.

O único que está seguro é o proprietário dos armazéns Harrods, que se esforça em arejar a roupa suja, salpicada de sangue.

Agora está a alimentar uma polémica com o duque de Edimburgo, o ilustre apalermado.

Chamou-lhe "nazi" e "fascista" como se não fosse suficiente uma só dessas coisas.

A verdade está no túnel de Paris e talvez a encontre alguém do serviço de limpeza.


sábado, 15 de março de 2008

- Certas coisas são tão importantes que necessitam ser descobertas sozinhas ! (xistosa)

VOU PENSAR EM SUICIDAR-ME ...

Samurai suicida.










Encontrei o senhor Vicente depois de sair do túnel e virar para a Ribeira, mesmo à beira do rio.

Há quase dez anos que não o via; desde uma noite em que o ouvi dizer firmemente que se ia suicidar.

Na altura havia diversas pessoas, mas fui o único, que me chamou a atenção, aquela declaração.

Os outros que estavam na reunião, já o conheciam muito melhor que eu e pelo que disseram, logo que ele se retirou, o homem costumava expressar amiúde a sua afinidade para com a determinação e já ninguém acreditava ou sequer prestava atenção.

- Vicente! Recorda-se de mim?

O homem magro, de olhar melancólico e transparente, manteve-se calado e olhou-me de alto a baixo.

Recordei-lhe.

- Conhecemo-nos num jantar em casa do Varela, na noite que …

- Ah!, Sim!. Como está esse pessoal?
- Sinceramente que não sei. Há muito tempo que não os vejo.
- Isso já foi há uns dez anos, disse Vicente e voltou a olhar para o rio escuro.
- Sim, há mais ou menos isso.
- Que coisa, exclamou, como se recorda de mim ao fim de tanto tempo?
- Bem. Naquela noite, você falou em suicídio e isso chamou-me a atenção para …

Vicente, interrompeu o diálogo e soltou uma sonora gargalhada.

- Está claro, você acredita que eu me despeço assim nas reuniões para que os presentes não me esqueçam.
Sorri.

- Não, mas a sua maneira de ser, resultou.

Recordo-me perfeitamente do momento em que se pôs de pé e com toda a seriedade do caso, disse que se retirava, porque se ia matar.

- Sim. E agora está a pensar: este velho é um cretino mentiroso.
- Não. Não penso nada disso.
Você teria as suas razões.
Folgo em saber que mudou de intenções.

Vicente voltou a olhar-me e respondeu-me algo confuso.
- Quem é que lhe disse isso?

Entretanto rodou e põe-se de costas para o rio e de frente para mim.
- Bem, já passaram dez anos.
- Acredita que é assim tão fácil.
Que uma vez disse que ia terminar assim … e irei mesmo.

Já nasci com esse sentimento.

Em pequeno, fui parar ao hospital três vezes por me atirar do berço para o chão.
A minha mãe, muito religiosa, tentou, em vão, inculcar-me a convicção de que este tipo de determinação está nas mãos de Deus.
Com o passar do tempo a vida foi-se complicando e, como dizia, as coisas não são tão simples.

- Estou a compreender.
- Os meus país necessitavam que eu trabalhasse e assim fiz.

Quando morreram num acidente, já pude escolher.
Tranquei todas as portas e abri o gás.
Esvaziei um frasco de comprimidos e acabei com uma garrafa de whisky, que estava pronta para ser aberta só para aquela cerimónia.
Vicente notava que eu o ouvia atentamente, à medida em que o Sol, escondido pelas suas costas, desaparecia no rio.

- Algo correu mal.
Escutou-se uma explosão; deve ter sido o meu maldito costume de fumar, antes de adormecer.
Estive inconsciente mais de seis meses.
Quando abri os olhos, vi-a, quase uma aparição bíblica.
Uma mulher morena, com um sorriso de bonomia e umas mãos macias; muito macias e suaves, como a sua maneira de falar.

Vicente ficou em silêncio um momento.
Acendeu um cigarro e continuou a descrição.

- Era uma enfermeira e disseram-me que me tratou como ninguém o tinha feito, durante todo o tempo.
O certo é que me casei com ela e com ela tive um filho.
Consegui um novo emprego e vivemos mais de cinco anos numa pequena casa que ela fazia parecer grandiosa.

Um dia cansou-se de mim, de me tratar e partiu, levando com ela o filho de ambos.
Não me atrevi a contrariar tudo aquilo, a não ser com uma careta e um franzir das sobrancelhas.

Quando fiquei curado, fui eleito o representante dos meus companheiros no sindicato.
Não podia deixá-los sós.
Procuravam-me, exigindo o impossível e isso foi o pior.
A entidade patronal dizia-me a tudo que sim, os meus companheiros acreditavam que eu era um herói em vez de um simples suicida à procura que me retirassem do jogo.
No final podiam substitui-me, mas já tinham passado mais de cinco anos.
Foi nesse tempo e nessa reunião que nos conhecemos.

Sorri, como o faria um espectador vendo-se entrar no filme que está a assistir.

- Naquela noite cheguei a casa e decidi escrever um bilhete, uma carta.
Um escrito.
Percebe ?

Um suicídio sem deixar uma explicação não serve.
Bem, não importa, a questão é que me lembrei que não havia ninguém na minha vida que lesse essas linhas.
Assim que as escrevi, levei-as a um amigo que há muito não via.
Ele leu-as e pediu-me que lhe desse uns dias.
Não estava tão apressado e angustiado assim que escutei o seu pedido.

Vicente acabou o cigarro e a ponta incandescente, caiu à água, apagando-se na obscuridade da noite que caía.

- Três dias depois, este amigo, chega a minha casa, comentando que o meu texto, uma espécie de testamento imaterial tinha sido lido por um editor que estava vivamente interessado em conhecer-me para poder ampliar as minhas notas para as compilar em livro.

Vicente olhou-me com desânimo e deu um repentino giro, ficando novamente de frente para o rio que já não se distinguia na paisagem nocturna.

- E aqui estou.

- É hoje o dia? Perguntei-lhe com um certo temor.

- Hoje? Hoje não, é impossível.
Amanhã tenho uma reunião na editora … O contrato … Não sei, talvez depois de acabar o meu último livro …

- Formidável. Fico imensamente satisfeito. E você, agora está bem?

- Estou resignado.
Sabe por quê? Estou velho.
Talvez sejamos todos suicidas resignados a que nos surpreenda a norte.

Vicente estendeu a mão, cumprimentou-me e retirou-se com passo tranquilo, bordeando o passeio iluminado, junto do rio, de costas para as luzes que iluminavam a ponte.

Talvez todo o suicida justifique a sua acção, com o medo que causa a possibilidade de que a morte surpreenda alguém.
Pode ser a única eleição de vida que reste a quem a vida nunca o pode eleger.
Talvez tudo erradique na falsa fantasia de que a vida viaja pela rota das grandes decisões e não pelo caminho estreito e empoeirado das pequenas escolhas.

Durante uns minutos, fiquei parado; olhava a sombra do que seria o rio, pois este já não o via, no local exacto onde Vicente, instantes antes tinha estado, talvez a pensar em coisas parecidas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

- A glória e a honra são aguilhões da virtude !
(Francis Bacon, filósofo inglês, 1521-1626)

MÁSCARAS E DISFARCES










A indumentária, sempre vem sendo, através dos séculos, uma mostra e mesmo montra de hierarquia.

Os que dispõem de algumas moedas queriam que lhes dessem um simples olhar e para isso nada melhor que vestir-se luxuosamente.

Os potentados, os lindos figurões, tinham-no fácil, ainda que menos que os cavalheiros, que denunciavam a sua condição porque tinham um cavalo por baixo.

Na época que chamamos moderna, ainda que esteja a ficar muito antiga, produziu-se uma vergonhosa abdicação de classe.

Jovens endinheirados gostavam de vestir-se como mendigos amadores.

Compravam calças vaqueiras, (blue jeans), sem terem tido qualquer contacto com as vacas, para além do consumo de leite pasteurizado.

Mais a mais, se a duvidosa peça era recém-adquirida, deterioravam-na previamente.

Para ficar elegante era necessário esburacá-la ou rasgá-la e cobri-la com uma discreta porção de merda.

Tinha que estar na moda.

- Que elegante estás, disse alguém áquele lorde, nas corridas de cavalos.

- Sim? Reparaste?

Agora o que os impulsiona é a simular uma verdadeira aparência de pilha galinhas, ainda que não sejam o proprietário do galinheiro.

Em Espanha, nos penúltimos comícios eleitorais, ressuscitaram os disfarces, não é em vão, esta palavra, disfarce provém etimologicamente de dissimulação.

Quem enganam os que tiram a gravata e deixam barbear-se quando comparecem ante um auditório proletário?

O mais recente caso cómico, protagonizou-o Aznar, travestido de pantera cor de rosa, com a sua meia cabeleira e o seu bigode quase demissionário.

Os seus inimigos acusam-no de "facho", mas a verdade é que ia com boa fachada.

Woody Allen, disse que não tinha nada contra a eternidade, sempre que fosse vestido para a ocasião.

O Carnaval eleitoral, que já terminou, teve as suas exigências.

quinta-feira, 13 de março de 2008

- Para os cristãos, encontrar algo inacreditável é uma bela ocasião para acreditar ! (Michel de Montaigne, escritor e ensaista francês)

COMENTÁRIO a um POST MEU



- Pretendo ser feliz porque é bom para a saúde ! (Voltaire)


Filósofo alemão,(1788-1860)





luma
disse ...

Tem um texto de Arthur Schopenhauer que fala sobre a Saúde ser Essencial à Felicidade:

"Para saber o quanto a nossa felicidade depende da jovialidade do ânimo e este do estado de saúde, é preciso comparar a impressão que as mesmas situações ou eventos exteriores provocam em nós nos dias de saúde e vigor com aquela produzida por eles quando a doença nos deixa aborrecidos e angustiados.

O que nos torna felizes ou infelizes não é o que as coisas são objectiva e realmente, mas o que são para nós, na nossa concepção.

É o que anuncia Epicteto: O que comove os homens não são as coisas, mas a opinião sobre elas.

Em geral, 9/10 da nossa felicidade repousam exclusivamente sobre a saúde. Com esta, tudo se torna fonte de deleite.

Pelo contrário, sem ela, nenhum bem exterior é fruível, seja ele qual for, e mesmo os bens subjectivos restantes, os atributos do espírito, do coração, do temperamento, tornam-se indisponíveis e atrofiados pela doença.

Sendo assim, não é sem fundamento o facto de as pessoas se perguntarem umas às outras, antes de qualquer coisa, pelo estado de saúde e desejarem mutuamente o bem-estar.

Pois realmente a saúde é, de longe, o elemento principal para a felicidade humana.

Por conta disso, resulta que a maior de todas as tolices é sacrificá-la, seja pelo que for: ganho, promoção, erudição, fama, sem falar da volúpia e dos gozos fugazes.

Na verdade, deve-se pospor tudo à saúde"


in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'


terça-feira, 11 de março de 2008

- Pretendo ser feliz porque é bom para a saúde ! (Voltaire)

MEMÓRIAS QUE NÃO SE PERDEM



Acabou!

Já há vencedores e vencidos nos nossos vizinhos que são muito mais católicos que nós, (basta ter lido os apelos, ao voto, quase dramáticos e pungentes das altas esferas eclesiásticas, que levou até lá o nosso representante no Vaticano, como representante deste).

Aqui ao lado passou-se algo incompreensível, mas fácil de compreender se observarmos a conduta dos contemporâneos, sessenta anos depois.

As denúncias por desaparição, torturas e exílios forçados durante a guerra civil, segundo a "Audiencia Nacional" não podem ser considerados um delito contra a humanidade, já que esta não existia durante a bárbara contenda.

Uma piedosa forma de Alzheimer que pode fazer bem a todos os espanhóis, mas que não deixa de ser injusto, já que uns caíram por Deus e por Espanha e outros caíram porque a República não podia suportar-se e uns foram cavalheiros mutilados de guerra e outros fatídicos coxos, ainda que a ambos lhes falte uma perna.

A uns a direita e a outros a esquerda.

Todas as terras são frutuosas para semear o rancor e muitas terras espanholas, produzem magníficas colheitas.

Fizeram bem uma coisa muito difícil, a chamada transição e, a intenção de rectificá-la constitui uma grande torpeza.

As ressacas são más, sobretudo quando se bebeu sangue.

Caminham "agarrados ao ontem", que é como se denominam num certo país onde se fala espanhol, também chamado castelhano, no dia seguinte ao de terem ingerido um pouco de álcool a mais, ou seja, o suficiente.

Talvez até fosse benéfico que a "Santa Madre Iglesia" não mostrasse favoritismo por nenhum dos seus filhos, já que todos são filhos de Deus e se deixe de histórias, salvo a História sagrada.

Já sabemos como acaba a História, com maiúscula.

O Holocausto, onde os nazis conseguiram assassinar cerca de 11 milhões de seres humanos, agora é uma historieta, principalmente para os pais, que não foram exterminados, dum monstro qualquer, que é um presidente qualquer, dum país qualquer do Médio Oriente.

Assim acaba a memória histórica.

Já o presidente venezuelano, Hugo Chavez, quer exumar, Simão Bolivar, para saber se morreu assassinado.

Também se fez isso com o cadáver de Napoleão.

Creio que encontraram restos de arsénio no seu imperial penacho.



segunda-feira, 10 de março de 2008

- Entre mulheres, apenas existe como desigualdade real a formosura ! (Alphonse Karr, crítico, jornalista e novelista francês)

COMÉDIA NEGRA









Entre um funeral e outro funeral, fazem-se estatísticas de mulheres assassinadas pelos maridos, namorados, pares, amantes ou acompanhantes do sentimento.

Seremos o povo mais estúpido de todas as latitudes?

O crime passional, dá-se em qualquer sítio, em qualquer país, já que a paixão, ou o transitório estado de "apaixonamento", é algo universal.

Falamos de índices de frequência e a segunda pergunta é por que estamos a bater o recorde de violência do género.

Não se podem descartar factores económicos, mas também os educacionais.

Um equivocado sentido de propriedade faz com que muito assassinos argumentem como desculpa, "matei-a, porque era minha".

Não acredito que se deva só a uma insuficiente legislação, esta macabra assiduidade.

Tão-pouco ao consumo de álcool e, (ou), drogas.

Há em Portugal muita gente, incluindo autoridades, que também são gente, destinadas a proteger as mulheres maltratadas, mas o mal é que não se deve tratar, de tentar não aumentar esse número, mas sim de diminuir a quantidade de malfeitores.

Claro que a legislação tem buracos, mas o que temos que conseguir, é que não se utilizem como valas comuns.

Não é possível atribuir um guardião a plena dedicação a cada pobre mulher maltratada e ameaçada por um selvagem com quem havia decidido viver, até que a morte os separe.

Sobretudo se tiver em conta que esse momento, que é inevitável para todos, seja decidido por ele.

Já sabemos quase tudo acerca da idade dos assassinos e das assassinadas.

Também das comunidades e dos estratos sociais onde mais abunda este tipo de separação traumática.

Sabemos tudo de todos e não sabemos nada de nada, sobre estes crimes.

Também não sabemos é por que matam os que matam.

Acabam com a vida de outra pessoa por que se destroçou a sua?

Porventura tão-pouco o saberão os assassinos e quem os descobre, como no tango que não sabiam que a queriam tanto.

Também o desamor tem razões que a razão não conhece. Nem os tribunais.

domingo, 9 de março de 2008

- Há homens a quem não deves estender as mãos, mas somente a pata; e quero que a tua pata tenha também garras ! (Nietzsche)

O ÓDIO TAMBÉM SE APRENDE









Os crimes sobre as pessoas, mesmo que não sirvam para outra coisa, deixam-nos pelo menos por uns momentos, com parte do coração inutilizado.

O primeiro impulso que sentimos é o da vingança, que quiçá seja servida fria, nos saberia bem, se fosse quente ou amornada em banho-maria.

O abjecto assassinato do ex vereador socialista de Mondragón, faz-nos piores a muitos.

Todos os que temos repudiado a barbárie que é a pena de morte, considerando-a em si mesmo, um assassinato legal, temos sentido oscilar a nossa firme consciência.

Nuns convulsos instantes, recordamo-nos do que dizia alguém que transformou o seu critério exigindo que a suprimissem, primeiramente os senhores abjectos.

A verdade é que não somos anjos.

Essa alada estirpe condescendente que habita entre nós, (incluindo os anjos da guarda que desertaram), e perante um abominável crime sempre há algo na nossa natureza que solicita um castigo definitivo.

A única vantagem da chamada pena máxima é que não permite reincidentes, mas passado o primeiro impulso, damo-nos conta de que constitui um argumento.

Jorge Luis Borges (*), dizia em, "La historia universal de la infamia", que se era lícito assassinar um assassino, também seria lícito comer um canibal.

Os familiares da jovem marroquina esfaqueada em Granada, estão a pedir a pena de morte para o autor.

Muitos independentes, mas espanhóis principalmente, veria com gosto que se aplicasse idêntica medida ao assassino do ex vereador do PSOE.

Quando corre sangue, ficamos mais ferozes todos, incluindo os que nos salpicam.

Viver é ir-se construindo uma consciência e quando acreditamos que a edificação já estava mais avançada, surge do meio dela o ódio.

Essa é a vitória do terrorismo: não nos podemos contagiar com os seus móbiles, mas ás vezes podemos contagiarmo-nos com os seus procedimentos.

Durante algumas horas quase todos fomos pior do que aquilo que efectivamente somos.

(*)

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges, (Buenos Aires, 1899 - Genebra, 1986), escritor argentino de poemas desafiantes e contos vanguardistas.
Entre a sua obra, conta-se: "La historia universal de la infamia (1935)", uma colectânea de contos baseados em crimes reais.
Recebeu inúmeros prémios e considerações, em 1961 comparte o Prémio Fomentor com Samuel Beckett, e em 1980 o de Cervantes com Gerardo Diego.

sábado, 8 de março de 2008

- Nós sabemos o que somos, mas não o que podemos ser ! (William Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês, 1564-1616)

TABULETAS e LETREIROS


Letreiro numa loja, no Cairo.







O idioma, que é a verdadeira pátria de cada um, não deve impedir ninguém de viajar por outros locais e papaguear, como se diz em calão, outras línguas, mal e porcamente, como também vulgarmente se diz.

Li há poucos dias num jornal espanhol, que está aberta uma guerra, mas esta é de "salsa e manjerona", mais propriamente um conflito de letreiros, (os espanhóis, tal como nós, são especialistas em inventar problemas, só para depois encontrarem laboriosas soluções).

Até para a Galiza, alastrou o mesmo problema.

Discutem em que linguagem devem ser impressos ou "escritos" as mensagens publicitárias e esses anúncios que como bem observou Tono, (*), todo o mundo lê, já que a diferença para as grandes obras literárias é que só são lidas por alguns, pois os outros só lêem quem as escreveu.

Foi caricato o candidato, Rajoy, citar num debate televisivo um empresário que pelos vistos foi multado, por ter o letreiro em catalão.

Parece-me que a única coisa que conseguiu foi encolerizar mais os semi-adormecidos nacionalismos, que constituem uma minoria de alta estirpe.

Ao contrário, os chineses, que possuem muitas e variadas lojas, podem usar o seu maravilhoso e melodioso idioma, sem represálias.

Salvo erro, a norma linguística da "Generalitat" - o governo autonómico -, absolve os comércios dirigidos pelos imigrantes e coloca objecções aos proprietários dos estabelecimentos, em determinadas regiões autónomas, o que não deixa de ser caricato, além de ser significativo.

O ideal seria a tolerância absoluta: se alguém quer anunciar ou publicitar uma salsicha de Frankfurt, deve ter o direito de o fazer em alemão e quem quiser vender um biombo chinês, deve-lhe ser permitido anunciá-lo em chinês.

A variedade confusa ou desordenada de letreiros, torna mais amenos os percursos dos passeantes nas grandes cidades, incluindo os que se passeiam nas diversas regiões autónomas, pois é, porque têm mais tempo livre.

Numa minúscula "taberna-petisqueira", li algures há meia dúzia de anos, um letreiro que dizia:

"As amêijoas, (**), que se vendem neste estabelecimento, são as mesmas que trabalharam no filme - Tubarão -.

Também vi em Málaga, um letreiro que dizia:

"Necessitamos de clientes. Não se exige experiência!"


(*)
Antonio de Lara Gavilán, (1896 – 1978), conhecido pelo pseudónimo de "TONO", deixou a sua marca, ao longo da sua vida profissional como caricaturista, cartunista, escritor, autor de teatro, e até chegaria a alcançar fama e sorte no cinema.

(**)
Não sei se seriam os bivalves, se no sentido figurativo, as vulvas.


sexta-feira, 7 de março de 2008

- É preciso ter uma mente muito fora do comum, para analisar o óbvio ! (Albert North Whitehead - filósofo, matemático e físico que trabalhou na lógica, na filosofia da ciência e da metafísica)

CERA OU PARAFINA


NUNCA FAÇA ISTO !!!





O uso de cera como combustível para foguetões pode parecer algo primitivo à primeira vista.
Qualquer pessoa que já acendeu uma vela sabe que a parafina queima lentamente e é difícil queimá-la sem usar um pavio.


No entanto, Arif Karabeyoglu, investigador na Universidade de Stanford em parceria com David Altman, que actualmente é o presidente do Space Propulsion Group e com Brian Cantwell, professor na Universidade de Stanford descobriu uma maneira de fazer a parafina arder três vezes mais rapidamente do que alguma vez se viu.

Esta reviravolta nos actuais combustíveis sólidos dos foguetões conduziu a um combustível mais seguro de manusear e mais amigo do ambiente, que poderá um dia propulsionar os foguetões para o espaço.

Uma das razões para a ausência de malefícios da cera de vela é o facto do oxidante necessário para que esta arda estar separado da própria cera: ar no caso das velas, oxigénio puro no caso dos foguetões.

Quimicamente falando, a combustão é a rápida oxidação do combustível, normalmente por combinação com o oxigénio gasoso do ar.

A este tipo de foguetão, com o combustível sólido e o oxidante gasoso ou líquido em separado, chama-se um foguetão híbrido.


Pelo contrário, os actuais foguetões de combustível sólido usam materiais sólidos, tais como componentes de perclorato como oxidantes, sendo o combustível e o oxidante misturados antes de serem colocados no foguetão.

Por outras palavras, o combustível é ‘carregado’ e fica pronto a explodir ... não é um material muito seguro para trabalhar e também não é amigo do ambiente.

Quando se queima o actual combustível, produzem-se compostos de HCl, ácidos e outros químicos perigosos.

E ao chover (chuvas ácidas), estes compostos depositam-se nos lagos e solos, cujo aumento poderá prejudicar a flora e a fauna.

A parafina, pelo contrário, queima dum modo limpo.

Os únicos gases resultantes são vapor de água e dióxido de carbono.

Cera - Nunca derreta cera no, ou ao fogo.
As queimaduras provocadas por cera derretida ou em combustão costumam ser gravíssimas.

O mesmo vale para a parafina


quinta-feira, 6 de março de 2008

- Ninguém volta de bom grado a um lugar onde foi maltratado ! (Fedro)

VITÓRIA DO GETAFE EM MADRID





A derrota do Real Madrid ante o laborioso "Getafe", provocou imensos comentários, sobretudo mais ardorosos, que os debates entre os líderes, Zapatero e Rejoy.

Talvez isto se deva a duas causas: muita gente descrê da sublime função política e outra tanta pensa, depois da ronda de ofertas, que no entretanto nenhum tem que se endividar, respeitando-se, ambos, conspicuamente.

Não concordo muito com estas conjecturas.

Parece-me que refugiar-se na frivolidade, corresponde ou responde a um impulso de sobrevivência.

O "superávit" de informação política converteu-se num aborrecimento e chega um momento em que temos que nos evadir.

No futebol, aparecem sempre surpresas, ou seja, a vitória de quem não se espera, em alternativa, nos debates sabe-se antecipadamente que vão ganhar os dois, segundo o critério das suas respectivas claques ou dos seus fãs.

Haveria que fazer o elogio do intranscendente, já que estamos constrangidos por coisas importantíssimas.

Por exemplo, no Kosovo, que pode deixar algum rastilho de pólvora para a Europa, a nova monarquia castrista em Cuba, onde continuamos a não saber quem são os mandatários dos negros, (eu chamo-lhes pretos, por uma questão de … nem sei de quê … se são pretos, não são negros e o inverso, também é verdadeiro, negros … eram os negociados por negreiros …), o problema dos desempregados e a imigração.

Aumenta-se o número de desempregados e se continuamos admitindo, com admirável sentido de hospitalidade o alto número de pilantras, as coisas, irão não só de mal a pior, como de pior a catastróficas.

Segundo li e parece-me que ainda o sei fazer, 6 em cada 10, reprovam a política de imigração.

Como surpreender que o Real Madrid, (Benfica), e o Barcelona, (Porto), açambarquem as conversações ?

Todos temos direito a defendermo-nos e as expansões não nos ajudam a desintoxicar.

Não é que tenhamos a cabeça vazia, é que nela não nos cabem mais promessas, nem mais comícios, nem mais protelados programas de festejos.

(eu sou português e do Belenenses, de Portugal !!!.

Porque será que energúmenos, azuis ou vermelhos, ou mesmo verdes, rejubilam, com o insucesso internacional dos adversários???

Alguém que cabalmente me explique !!!)

quarta-feira, 5 de março de 2008

- Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma.
As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveria viagens nem aventuras nem novas descobertas !
(Voltaire)

VAMOS A CONTAS

Manifestantes ...

Votante ...

Abstencionista ...


Os espanhóis vivem a apoteose do prognóstico, que é sempre reservado e há sempre tantos totololistas, (quinielistas, bonolotistas, dependendo do jogo), como votantes.

O perigo das sondagens é que podem influir no resultado já que há muita gente preparada para acudir em socorro do vencedor.

Isso duma "épica derrota", tem muito boa impressão, mas poucos partidários.

O prognóstico do CIS (*), de momento, já acertou numa coisa: estas eleições serão as mais renhidas e igualadas da curta história democrática de Espanha.

No boxe, a coisa mais parecida com a política, salvo que é mais nobre, pode-se reprovar o "match" nulo, argumentando que um deu um murro a mais do que o outro, descontando os golpes baixos, que descontam um ponto.

Segundo as "contas" actuais, o PSOE, já aumentou a sua vantagem sobre o PP, para 2 pontos, depois de se assistir ao último assalto.

Sabe-se que a maioria dos cidadãos não lêem os programas dos partidos, para não se deixarem influenciar.

Não consentem que as ideias expostas possam alterar a sua ideologia.

Até aí podemos chegar.

Mas como admitir que os acontecimentos determinem o seu voto?

Têm incrustada a sua certeza, entre sobrancelhas, ainda que uns metam o dedo no nariz e outros não.
(Morrer, mas não ceder, é um lema de muitos e era-o de Concha Espina (**), talvez uma versão actualizada de "sustê-la mas não emendá-la".

Mudar de opinião, quando mudam os factos que nunca estão parados, é considerada uma deslealdade.

O empate técnico que alguns opinam, pôde ter sido desfeito, no último "round", entre Zapatero e Rajoy, já que no ringue, quer Solbes, quer Pizarro, no passado dia 21, deixaram tudo em aberto, apesar do primeiro acusar o adversário de convocar manifestações da desgraça.

No último "round" que talvez tenha sido o combate de fundo, Zapatero procurou recursos de urgência, para terminar o combate como vencedor e parece-me que o conseguiu.

É claro que ainda não está garantido quem será o vencedor.

Mas uma coisa é certa, está garantida a afluência do público.

(*)
CIS, Centro de Investigaciones Sociológicas, dependente do Ministerio da Presidência.
(**)
María de la Concepción Jesusa Basilisa Espina Tagle, (1877/1955), vulgarmente conhecida por, Concha Espina, escritora e poetisa española.
Autora de numerosas narrações poéticas e novelas que se caracterizam pela sua riqueza literária.
Foi galardoada com inúmeros prémios e proposta para um Nobel.

terça-feira, 4 de março de 2008

- O homem faz a religião, mas a religião não faz o homem ! (Karl Marx)

NÃO SE MORRE DE VÉSPERA ! ! !




Sentou-se por cima da tampa da mala e forçou os fechos de cada lado, até conseguir uni-los, entre as suas pernas.

- Cansas-me!
Estupidificas-me ao ter que falar sempre do mesmo e tu sem entenderes nada.

Baixou a mala e agarrou a pega, com visível nervosismo, pousando-a contra uma parede, no hall de entrada do quarto.

- Vou-me embora!
Cansei-me de falar com neurónios depressivos e quase mortos.
E isto tem que ver com a amizade.
Não me considero tua amiga.
Não posso!
É impossível ver amizade entre tanto egoísmo.
Tuuuudo tem que ser como tu queres … tuuuuuudo!
Senão, a madame, deprime-se …
A madame chora.
Miúda tão rica como estúpida.

Basta!!!

Em posição fetal sobre o cadeirão da saleta, Margarida soluçava e escutava a irada despedida da sua companheira de quarto.

Ia lamentar-se por ela querer partir.

Joana, era a sua única amiga e tinha razão.

Odiou-se ao dar-se conta dos seus erros no meio duma crise.

Mas era orgulhosa, isso fazia-a insistir nos seus pontos de vista, até que a paciência de Joana chegou ao limite da tolerância.

Como hoje.

Só que … Joana, nunca tinha feito as malas antes.

E o que era ainda pior, é que ela atirou a roupa para dentro da mala, sem se preocupar se se enrugava …

Tudo com a força da sua determinação.

- Logo à noite, assim que tenha um local para me alojar, passo por cá, para recolher a mala.

A força da porta a bater, mostrou o nível de indignação e ira da sua companheira, quando por fim, partiu.

Talvez, à noite, quando voltasse para pegar na mala, estivesse mais calma e poder-lhe-ia pedir perdão.

Na rua, Joana deteve-se e respirou profundamente … sentia pena e arrependimento.

Talvez, à noite, quando fosse buscar a mala, já mais calma, pedir-lhe-ia perdão. ...

- ... O táxi deteve-se e o motorista acendeu a luz interior.

Joana já tinha preparado o dinheiro para pagar-lhe.

Desceu do veículo e olhou para o 5º andar, onde tinha a mala.

Uma sombra passou rapidamente perto da janela e em poucos segundos, a luz do quarto apagou-se.

Como noutras ocasiões em que Margarida permanecia envolta no seu orgulho, certamente que fingiria que estava a dormir para não falar.

- Enfim! Suspirou.

Com cuidado, fazendo parte da noite, abriu devagar a porta para pegar na mala que tinha deixado no hall.

Por um segundo, conteve o impulso de acender a luz e desmascará-la, mas não teria o menor sentido fazê-lo … assim que pegou na mala, saiu.

Pela manhã, voltaria para levar o resto dos seus pertences.


8.30 h, toca o telemóvel.

Tacteou com os olhos semi-cerrados por cima da mesa de cabeceira e sentou-se na cama para atender.

Detectou que era o telemóvel de Margarida.

Uma sensação de inquietude se misturou com a saturação do dia anterior ao recordar as variações de carácter da sua companheira.

- Está?

- É a menina Joana?

- Sim …

- Sou o sargento Victor e queria falar consigo agora mesmo.
Onde se encontra?

- Senhor Victor, estou muito assustada … esta chamada a partir do telemóvel da minha amiga, feita por si …

- Menina, sinto ter que lhe dizer, mas há motivos para o seu alarme.

Em que sítio se encontra?

- Estou na Pensão Estrela, na Rua de S. Julião, 27.

- Em poucos segundos, um carro estará aí, peço-lhe que venha.

O carro dirigiu-se ao local, onde durante alguns anos havia convivido com Margarida.

Nas imediações estava uma dúzia de polícias, diversos carros policiais com a suas luzes a piscar.

Também havia uma ambulância.

Joana mal chegou, verificou que tanto aparato só podia significar que a sua amiga estava morta.

O queixo começou a tremer-lhe prenunciando um pranto.

Um oficial abriu-lhe a porta do carro para ela descer.

Alguém a amparou por debaixo dum braço, ao ver que as suas pernas tremiam.

Trouxeram-lhe uma cadeira.

- Margarida, está … ?

- Lamento-o muito, disse o sargento. Assassinaram-na.

Joana não pode conter os vómitos

- É necessário que entre connosco na casa, pode haver algo que nos possa elucidar.

A porta da entrada do quarto, estava com uma faixa vermelha, o sargento levantou-a para que ambos pudessem entrar.

Mais além do hall de entrada, depois de transposta a porta, estava tudo revolto.

O sargento conduziu-a lentamente até ao quarto onde se encontrava a sua cama e a de Margarida.

No centro, um vulto coberto com um lençol, revelava a forma de um corpo, que parecia estar numa horrível contorção.

Num dos lados, via-se uma pequena mão descoberta e … ensanguentada.

Novamente tiveram que ampará-la pelas axilas, para sustê-la e não cair.

Pediram-lhe que olhasse para um dos espelhos do quarto, onde o assassino havia deixado um recado, escrito com o próprio sangue da sua vítima.

Joana levantou a sua cabeça e leu …

" Se tivesses acendido a luz … estarias junto a ela "!