terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O URSO DO MAOMÉ




A ignorância da lei não exime o seu cumprimento, o que verdadeiramente é um privilégio é conhecê-la e não cumpri-la.

Tenho mouros conhecidos que se põem morados como o presunto e distinguem-se na sua qualidade pela esbelteza da canela.

Há que aprofundar muito para desconfiar a categoria do justamente chamado "o melhor amigo do homem" para saber, observando o seu aspecto, se vai ser digno da nossa intimidade.

Aduzo este testemunho para ilustrar a diferença que existe entre fanáticos, já que não só há mouros e cristãos, senão mouros e mouros.

A maestrina britânica, Gillian Gibbson, teve que ser trasladada duma prisão sudanesa para um local secreto, acusada de infiel.

Queriam linchá-la, apedrejá-la ou esquartejá-la, segundo a modalidade preferida pelos seus verdugos.

O delito que se atribui a esta, penso eu, boa senhora, até agora totalmente ignorada pelo mundo, é ter baptizado com o nome de Maomé um urso de peluche, sua propriedade.

Diz-se que um fanático é um tipo que não pode mudar de assunto.

A lei islâmica imposta pelo presidente Omar al Bashir proíbe todas as imagens do profeta.

Nessas culturas o "marketing" pratica-se com obsessão.

Uma palavra vale mais que mil imagens.

Qualquer pessoa civilizada sabe que Maomé é uma figura na história da humanidade.

Respeitá-la, incluso admirá-la, devia ser compatível com não exigir a aniquilação de quem se permitiu a uma inocente brincadeira com o seu nome.

Eu tratei muito dum cão chamado "shane", duns amigos meus.

Um pastor alemão de excelente carácter que não era de carinhoso peluche, mas sim de carne, músculo e osso.

Talvez tivesse razão Rudyard Kipling, quando augurou que o Ocidente e o Oriente, nunca se entenderiam.

O fanatismo não é só a religião que teriam as feras, senão a que tem mais paroquianos.


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