quinta-feira, 11 de outubro de 2007

BOLÍVIA – OS ÍNDIOS SEM BISONTES







Os "westerns", informaram-nos profusamente da péssima estratégia dos índios que viviam onde agora são os Estados Unidos, (e não só).

A sua táctica de rodear as diligências dos rostos pálidos e estabelecer uma espécie de carroussel em seu redor permitia que todos morressem.

Os índios bolivianos estão a empregar outra táctica: o seu objectivo, não é arrancar cabeleiras, os célebres escalpes, mas tão só fazê-lo com os hidrocarbonetos.

Não seguem o Touro Sentado, mas sim o Evo Morales, mas censuram também quem está demasiado tempo sentado, apesar do seu plano de nacionalização ir vagarosamente.

Não são apaches, mas sim guaranis e nos seus territórios não há bisontes, mas sim petróleo.

O sequestro, há cerca de um ano, duma estação da Repsol, não só colocou em perigo a exportação de gás para o Brasil, que é o melhor cliente do combustível boliviano, como constituiu um símbolo de intensa magnitude do rasgo que caracterizará a primeira fase do século XXI: a exaustão da resignação dos pobres.

Antes, conformavam-se com o que tinham, mas isso agora acabou e aspiram a dispor daquilo que lhes pertence.

Neftalí Ricardo Reyes, sim, o nome do grande, Pablo Neruda, elegeu os índios mapuches como seus inspiradores ancestrais.

É certo que os índios parece que estão encostados ás portas, aguardando o porvir ou futuro que nunca mais chega e competindo em imobilidade com os troncos cortados, das florestas devastadas.

De repente, depois de séculos sigilosos, regressa a sombra enorme de um Caupolicán (*) e o espírito de Lautaro (*), aquele selvagem heróico que "aprendeu a conduzir as flechas certeiramente".

O porta-voz dos indígenas guaranis não descarta a possibilidade de fecharem as válvulas se não atenderem as suas pretensões.

Estão a agitar-se contra Evo Morales, que ganhou a presidência ao prometer a nacionalização dos tesouros do subsolo.

A t-shirt do líder já não é uma bandeira como no início.

Quando não se tem nada, tão-pouco se tem paciência.


(*) Caupolicán, foi um herói dos povos índios, mapuches ou araucanos, que conjuntamente com Lautaro, este a comandar os guerreiros, impediram a conquista das suas terras, Chile, parte da Bolívia e Argentina, pelos invasores espanhóis e infligiram-lhes pesadas derrotas. Só por traição, os espanhóis capturaram Caupolicán.
Foi empalado em 1558.
Também por traição, mataram Lautaro, o miúdo capturado pelos espanhóis e que tudo aprendeu sobre os invasores, até fugir, para com os conhecimentos adquiridos sobre o inimigo, derrotá-los.
Os espanhóis necessitaram, de mais de 300 anos para submeter estes índios
Caupolicán, será uma figura mítica para quase todos os índios.

Foi imortalizado, na obra épica:

“Não houve jamais rei que conseguisse sujeitar esta soberba gente liberta,
nem estrangeira nação que se jactasse de haver pisado seus territórios, nem terra comarcana que ousasse mover-se contra ela ou levantar-lhe espada.
Essa gente sempre foi livre, indômita, temida, com lei própria e cerviz erguida”.
(La Araucana, poema de Alonso de Ercilla y Zúñiga, 1533-1594)



1 comentário:

AGRIDOCE disse...

Gostei de conhecer este texto.
Bom fim de semana.