segunda-feira, 24 de setembro de 2007

METÁFORAS – a PRIMAVERA


Flores da pimenteira







A Primavera chegou, sem nada nem ninguém o saber.

Assim falava o poeta nos tempos em que o mundo se regia, por uma ordem natural que se estendia desde a própria natureza até à sociedade, um tempo em que o ser humano, ainda todavia, não tinha descoberto a maneira de destruir a paisagem, verter os detritos dos seus inventos nos rios e mares, lançar para o céu quantidades de produtos que destroçam a capa que nos protege dos raios do sol e, muito menos havia posto em marcha a codícia de querer ter mais para si e menos para os demais, até ao ponto de que morreria cada um dos predadores sem ter tido tempo de desfrutar dos excessivos bens que havia acumulado.

A Primavera chegou ás páginas da literatura romântica e foi a metáfora de estados de ânimo, situações políticas e sociais, bens que se entendem como recompensa de esforços, que se sumiram do pessoal nas desérticas praças da saudade e tantas outras imagens mais.

Mas este ano da graça, para dizê-lo da forma tradicional, de 2007, a Primavera veio com o frio, o gelo, a neve e os aterradores vendavais, por essa Europa fora, que arrancaram árvores recém floridas.

Como uma metáfora, desta vez, dos desaguisados a que se dedica a Humanidade, uma Humanidade, que entre Outonos e Primaveras, foi capaz de fertilizar a terra até ao extremo de dar de comer aos seus habitantes e de conservar nas profundidades da sua obscura realidade as águas benditas com que saciar a sede dos humanos, dos animais e das plantas.

Uma metáfora que nos vem dizer que somos nós os que temos desfigurado de tal maneira uma ordem natural, que manteve durante milhões de séculos os astros no céu, que hoje centenas de milhar de homens, mulheres e crianças morrem de inanição porque não alcançam os alimentos de uma terra que temos secado talvez porque, de novo uma metáfora, temos utilizado a água para verdejar os campos de golfe dos ricos e aprendizes de ricos deste mundo.

Metáforas que utilizam na Primavera, imagens que têm em conta, formosos poemas sobre flores que enchem o ambiente com os seus olores como no mês de Maio da minha infância.

Mas o certo é que a Primavera de agora não é a estação das flores e do renascer da natureza, como havia sido sempre nas nossas latitudes, mas sim um formoso de desaguisados que nos recorda o estúpido que é o ser humano, que destroça e acaba com o que recebeu e ainda por cima se sente satisfeito por isso.


Sem comentários: