quarta-feira, 12 de setembro de 2007

INACREDITÁVEL CRISPAÇÃO !!!





Era uma sexta feira à noite.
Chuviscava no Porto e arredores, depois de um dia nebuloso, que deixou a cidade escura e sonolenta.

Ás onze e meia, saí para a rua, à procura dum táxi, para uma ida à discoteca com amigos.
Passavam os carros, sempre em velocidade, mas táxis, nem vê-los, como se tivessem decidido mudar de rumo ou ficado em casa, aproveitando as primeiras horas do fim de semana.
De repente vi uma luzinha verde e instintivamente levantei a mão.

O táxi deteve-se, entrei, sentei-me e disse-lhe:

- Rua X, por favor.

O taxista voltou-se. Olhou-me com cara de mal humorado e disse:

- Não posso levá-la.

- Por quê?

- Porque não tenho trocos.

- Mas eu tenho uma nota de 20 euros.

- Não tenho troco para 20 euros.

- Eu tenho uma nota de 10 euros.

- Não tenho troco de 10 euros

-Tenho uma nota de 5 euros.

Atrás de nós, começaram as buzinadelas dos outros carros.

- A corrida custará mais

- Tenho moedas, disse-lhe, no limiar da loucura, mas com calma.

Quero pensar que o derrotei, mas creio que foram as apitadelas, cada vez mais prementes, que o decidiram.
O táxi, pôs-se em marcha.

O taxista era grande como um armário, pele branca e pelo canto do olho, podia ver-lhe uns óculos escuros que se moviam ao ritmo dos seus próprios gestos de impaciência e irritação.
Sem me deixar enredar pelo seu mau humor, acrescentei:

- Vou à Rua X, à Discoteca Y.

Não pude continuar.
Uma torrente de palavras encolerizadas, encostou-me toda ao assento.

- Não sou guia, nem tenho que saber onde ficam as discotecas e não quero saber para onde vai.
Dê-me o número da porta e basta, já faço muito em levá-la.

Estou acostumada a que os taxistas e, mais a mais estando a chover, procedessem doutra forma, disse-lhe secamente ...

- 365

Durante todo o trajecto, não deixou de ronronar, não de prazer, como os gatos, mas como os terramotos, antes de produzir-se uma tormenta, quando ainda não cairam os primeiros raios.

Chegámos.

Paguei com as moedas, a quantia exacta que marcava o taxímetro.

Acrescentei:

- Dê-me a factura se faz favor.

- Claro que dou. Não faltava mais nada.

Havia sarcasmo no seu vozeirão.

E enquanto tirava do porta luvas, o livro de recibos, murmurou alto para si:

- Quero saber quem me paga o táxi. O partido comunista ou o Cavaco?

Naquele momento senti medo, um medo escuro e irracional que brotou do ambiente fechado do táxi.

Saí sem dizer nada e só quando entrei na discoteca é que me senti a salvo.



Sem comentários: