quinta-feira, 16 de agosto de 2007

E-MAIL












Recordo-me quando andava ás voltas com o correio electrónico.

Era tal a admiração que me causava o milagre de poder enviar uma carta, que seria recebida no mesmo instante que, com a falta de fé que tenho, telefonava, para me assegurar de que a mensagem que se escapulira de forma tão misteriosa, tinha chegado.

A técnica produzia-me muita desconfiança, mas a mecânica também.

Que uma voz se mude pelo mundo através duns fios, como se faz com a electricidade ou que se possa erguer, sobre o rio mais caudaloso e largo, uma ponte com vários quilómetros, que suporte o peso de uns milhares de automóveis, ainda que verdadeiramente extraordinário, é perfeitamente compreensível à minha mente, mas que uma palavra que eu escrevi no meu computador, necessite só de um toque na tecla, “enviar”, para quase no mesmo instante, esteja em Pequim, Paris, Cidade do Cabo ou Nova Iorque, não cabia na estrita racionalidade do pensamento em que fui educado e era para mim, o mais extraordinário que tinha conhecido, muito mais que a viagem do homem à Lua.

É que a tecnologia parece-me sempre, mais fruto do azar e do destino, que um processo racional.

A prova é que se algo não funciona, o que fazemos é desligar o computador e voltar a ligá-lo, tentando que automaticamente, tudo role sobre esferas ou rodas.

Todavia, acostumei-me rapidamente a estas loucuras da tecnologia e inclusivé, ao cabo de muito poucos meses, já dava para impacientar-me quando não conseguia a ligação, como se realmente fosse um direito ao qual a minha mente se tinha fixado e que não estava disposta a renunciar, por difícil que fosse comprendê-lo.

Mas o tempo passa e hoje parece-nos impossível que algum dia tivéssemos de escrever “qualquer coisa” na máquina de escrever, metê-la num envelope, ir aos correios para comprar o selo, colá-lo, colocar o conjunto no receptáculo respectivo e esperar uns dias, para que a(o) amiga(o) recebesse a mensagem de amor, ou o cliente a factura.

E mais, hoje, levantamo-nos dispostos a perder um quarto de hora ou mais, eliminando correio em inglês, que nos anima a comprar Viagra, relógios de marca a preços irrisórios, remédios para tudo e para todos sem receita, títulos académicos sem estudos, umas pastilhas a preço irrisório, que nos alargam e alongam o pénis, para aquela medida que parece ser a que proporciona a felicidade.

E se o nosso servidor de internete não o impedir, (por falha ou qualque outro), estamos dispostos a responder áqueles E-MAILS, deixando para o fim o mais misterioso que promete vir carregado de fantasia.

E sejam quais sejam, os supostos inconvenientes e vantagens que tragam consigo, há sempre uma “racha”, “greta” ou “fenda”, com pêlos ou sem eles, num corpo bem feminino, para onde deslizar a imaginação que transcende a vida.

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