terça-feira, 3 de julho de 2007

Sobre o ALZHEIMER



Como o preserverante movimento das ondas que sem trégua se aproximam uma e outra vez da areia da praia, cada vez são mais numerosas as pessoas que alcançam idades provectas.

Situação propícia para que uma mais que notável proporção poder desenvolver algum tipo de demência, entre eles a doença de Alzheimer.

Maré humana que segundo dados recentes (?), (quem fez o levantamento?), duplicará em poucos anos o actual número de atingidos pela enfermidade.

Problema que alvoreia no horizonte da extraordinária magnitude sanitária e social, dada a peremptória necessidade de dispor de cuidadores que atendam as necessidades que requerem os afectados.

Padecimento que incide sobre a linha de flutuação da estrutura familiar, obrigada a rever as obrigações para dedicar por inteiro a sua atenção.

Panorama difícil de aceitar perante pessoas tidas por exemplares ou simplesmente normais, à vista do grau de decrepitude que alcançam.

Relaxamento paulativo do seu asseio pessoal, incapacidade de valer-se nas tarefas mais elementares, repetições constantes, irritabilidade, hostilidade, esquecidos de factos recentes, por contra recordações nitidas de verdadeiras batalhas em octogenários e nonagenários da(s) grandes guerras e assim sem solução de continuidade num largo memorial de agravos, motivo de tensões, angústia e depressão no seu ambiente familiar, impotente ante a hecatombe mental que contempla e que detiora a convivência quotidiana nos lares tidos por exemplares.

Para fazer frente a esta epidemia anunciada começaram a dar-se os primeiros passos com a criação de Comunidades, não estatais, que o dinheiro não chega para tudo e o melhor é ignorar a doença.
Estes grupos ou fundações comunitários que se dedicam a coordenar todos os aspectos do problema de forma integral mas sem apoios para a investigação.

Este processo arrasta-se, fez o ano passado 100 anos, em que se comemorou a primeira descrição de uma doente afectada por este mal, a famosa, Auguste D.

Demência que não se encontra maneira de parar, nem ante as almas mais exaltadas.

Num magnífico opúsculo, Os últimos dias de Emmanuel Kant, Thomas de Quincey, recreia a paulativa decadência em que se vê submetido o extraordinário filósofo, uma das mentes mais prodigiosas da humanidade.
Declínio que começou com a repetição continua de anedotas nas suas tertúlias.
Para recordá-las e obter a sua indulgência resolveu anotá-las em papeis e cartões, que no entanto extraviava.
Contudo conservava uma explêndida memória para recitar passagens completas da Eneida, aprendidas na adolescência.

É um paradigma como a alteração e a meticulosidade foi difícil reconhecer num rasgo comum, nestes doentes, como é o de qualquer alteração, incluso com a intenção de melhorar as suas condições de vida que resultam desagradáveis e lhes causam um notável desassossego.

Seja com uma simples mudança de local de objectos irrelevantes, umas cadeiras, a caixa dos óculos, o comando da televisão, ou até a caderneta da CGD.

O autor da Crítica da Razão Pura, sóbrio e frugal nos seus costumes, que pregava com o seu exemplo na sua rotina quotidiana até aos detalhes mais insignificantes para não perturbar o funcionamento do seu organismo, aproximou-se num momento de efervescência intelectual ao estudo da insanidade no seu Ensaio sobre as Enfermidades da Cabeça.

Preocupação que agradou aos ilustrados da época, pela possibilidade que os brindava sobre o modo de teorizar sobre as relações corpo e mente, assunto nuclear da metafísica.
Relações entre a mera actividade fisiológica do organismo e as potencialidades do espirito que suspeitava, de acordo com os seus próprios padecimentos, radicavam das alterações digestivas, que tanto o afectaram ao longo da vida e que lhe condicionavam os estados de ânimo.

Linha de pensamento em consonância com o uso de irrigações ou clisteres, como um dos recursos terapêuticos do momento.

Hoje, sistematizadas as enfermidades mentais com um corpus bem definido, os avanços do tratamento das demências está praticamente ao mesmo nível de há 100 anos, portanto muito longe dos objectivos desejados.

Para os afectados pelas suas consequências colaterais cabe recomendar virtudes de profunda firmeza e estabilidade ética, apregoadas pelo ilustre sabio prussiano, (Alexander Von Humboldt), como a força física e a moderação.

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